Ética na produção e compartilhamento da informação: tensões a partir de uma perspectiva teórica


Ethics in the production and sharing of information: tensions from a theoretical perspective


Ética en la producción y compartición de información: tensiones desde una perspectiva teórica


Mayara Wasty Nascimento de Farias

Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

Brasil


Licença:


Autor para correspondência: Mayara Wasty Nascimento de Farias

Email: mayara.wasty@gmail.com

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8856-2491


Como citar:

FARIAS, Mayara Wasty Nascimento. Ética na produção e compartilhamento da informação: tensões a partir de uma perspectiva teórica. REBECIN, São Paulo, v. 9, número especial, p. 1-18, 2022. DOI: 10.24208/rebecin.v9inúmero especial.345


RESUMO


O desenvolvimento das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação possibilitou uma nova perspectiva à sociedade. As formas de produção, compartilhamento e uso da informação foram alteradas e neste novo cenário o usuário figura como protagonista e media a informação transmitida. Mais que isso, pode influenciar na formação de conhecimento de outros usuários. Apesar de inúmeros benefícios oriundos das tecnologias digitais, esse novo cenário amplia as possibilidades das desordens informacionais. No ambiente virtual os conteúdos disponibilizados são criados e circulam sem monitoramento, possibilitando a desinformação. Neste sentido, o artigo traz uma reflexão sobre a ética da informação relacionada ao fenômeno da fake news e cultura da pós-verdade. Com o trabalho, pretende-se debater sobre esta problemática informacional emergente nos últimos anos sob a ótica do campo da Ciência da Informação e identificar iniciativas que buscam combater a desinformação. A pesquisa é classificada como bibliográfica por trazer conceitos da área e qualitativa por apresentar análise crítica sobre a problemática em questão. Desta forma, conclui-se a web configura-se como maior sistema de publicação do mundo e que sua arquitetura aberta possibilita o compartilhamento de notícias falsas. Ainda assim, entende-se que a disseminação dessas informações incorretas está ligada a fatores relacionados à pós-verdade: crenças pessoais, conforto psicológico e/ou ganho pessoal. Neste cenário, a ética pessoal dos usuários ganha cada vez mais importância na sociedade.


Palavras-Chave: Ética da informação; Desinformação; Usuário da Informação; Fake news; Pós-verdade.


ABSTRACT


The development of Digital Technologies of Information and Communication allowed a new perspective to society. The forms of production, sharing and use of information were changed and in this new scenario the user figures as the protagonist and mediates the information transmitted. More than that, it can influence the formation of knowledge of other users. Despite countless benefits arising from digital technologies, this new scenario expands the possibilities of informational disorders. In


the virtual environment, the available contents are created and circulated without monitoring, making misinformation possible. In this sense, the article reflects on the ethics of information related to the phenomenon of fake news and post-truth culture. With the work, it is intended to debate about this informational issue that has emerged in recent years from the perspective of the Information Science field and to identify initiatives that seek to combat misinformation. The research is classified as bibliographical for bringing concepts from the area and qualitative for presenting a critical analysis of the issue in question. Thus, it is concluded that the web is configured as the largest publishing system in the world and that its open architecture makes it possible to share false news. Even so, it is understood that the dissemination of this incorrect information is linked to factors related to the post-truth: personal beliefs, psychological comfort and/or personal gain. In this scenario, users' personal ethics gains more and more importance in society.


Keywords: Information ethics; Disinformation; Information user; Fake news; Post-truth.


RESUMEN


El desarrollo de las Tecnologías Digitales de la Información y la Comunicación permitió una nueva perspectiva a la sociedad. Las formas de producir, compartir y utilizar la información se modificaron y en este nuevo escenario el usuario figura como protagonista y mediador de la información transmitida. Además, puede influir en la formación del conocimiento de otros usuarios. A pesar de los innumerables beneficios derivados de las tecnologías digitales, este nuevo escenario amplía las posibilidades de los desórdenes informativos. En el entorno virtual, los contenidos disponibles se crean y circulan sin control, posibilitando la desinformación. En este sentido, el artículo reflexiona sobre la ética de la información relacionada con el fenómeno de las fake news y la cultura de la posverdad. Con el trabajo se pretende debatir sobre esta problemática informativa que ha surgido en los últimos años desde la perspectiva del campo de las Ciencias de la Información e identificar las iniciativas que buscan combatir la desinformación. La investigación se clasifica como bibliográfica por aportar conceptos del área y cualitativa por presentar un análisis crítico del tema en cuestión. Así, se concluye que la web se configura como el mayor sistema de publicación del mundo y que su arquitectura abierta posibilita el intercambio de noticias falsas. Aun así, se


entiende que la difusión de esta información incorrecta está vinculada a factores relacionados con la posverdad: creencias personales, comodidad psicológica y/o beneficio personal. En este escenario, la ética personal de los usuarios gana cada vez más importancia en la sociedad.


Palabras clave: Ética de la información; Desinformación; Usuario de la información; Noticias falsas; Posverdad.


  1. INTRODUÇÃO


    Pós-verdade e fake news são verbetes que ganharam visibilidade nos últimos anos em decorrência a acontecimentos com impactos globais, como por exemplo, a saída do Reino Unido da União Europeia e a eleição presidencial americana, ambos em 2016. No Brasil, tais desordens informacionais também têm impactado a sociedade. Mais recentemente como a grande quantidade de conteúdo circulando sobre a pandemia do novo coronavírus, resultando na criação do primeiro consórcio brasileiro de veículos de comunicação para a cobertura da pandemia do coronavírus. O consórcio, composto por seis veículos de comunicação: UOL, O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, O Globo, G1 e Extra, foi criado em junho de 2020 para trabalhar de forma colaborativa no processo de coleta, apuração e divulgação de informações corretas sobre o coronavírus no Brasil. A atuação metodológica é feita por meio da divisão de tarefas e a socialização, entre o grupo, de informações apuradas. Desta forma, há uma consolidação de dados que são transmitidos à sociedade.

    Apesar de estar em evidência na atualidade, a criação e disseminação de notícias falsas não é um fenômeno recente - sendo a


    mentira uma forma de controle social -. O que difere o momento atual é a amplitude que este fenômeno atinge em virtude do cenário fértil ocasionado pelas Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) e a Internet.

    Assim, a pesquisa busca entender como o fenômeno que promove a desinformação impacta a sociedade, amparando a discussão na premissa da ética da informação e identificar iniciativas que buscam combater a desinformação. Para isso, desenvolveu-se uma pesquisa bibliográfica com abordagem qualitativa a cerca da ética da informação, fake news e pós-verdade. Neste sentido, embasou-se a discussão em postulados teóricos de Capurro (2017), que traz uma visão sobre a ética da informação, Lévy e Martino (2014), que discutem a arquitetura aberta da Internet e as múltiplas possibilidades do ciberespaço, Buckland (1991), por meio da visão do conceito de informação na Ciência da Informação e Floridi (2013), sobre a ética na informação. Neste sentido, apresenta-se a necessidade de iniciativas que estimulem a formação de profissionais da informação e usuários com competência em informação.


  2. NOVAS FORMAS DE SE INFORMAR


    Por muito tempo as notícias eram transmitidas exclusivamente pelos meios hegemônicos de comunicação através do sistema linear emissor - mensagem - receptor. Atualmente, com a variedade de formas de se comunicar e consumir informação, percebe-se a mudança nesse sistema, passando-se a existir a possibilidade de que os usuários tornem- se emissores de informação, não apenas consumidores. Percebe-se, também, outra mudança oriunda deste fenômeno comunicacional, onde


    [...] o declínio do conceito de notícia e substituição do termo por informação não é apenas casual ou questão de moda. Nem se restringe a uma parcela do jornalismo [...]. O termo traduz uma concepção e um modo de fazer jornalismo vinculado ao mercado e às necessidades do cliente, usuário da informação, conforme está sendo chamado aquele que antes era considerado o leitor da notícia (JORGE; PEREIRA; ADGHIRNI, 2009, p. 76/77).


    Nesse sentindo, o termo informação amplia a gama de conteúdo que é veiculado, não se restringindo apenas a notícias jornalistas. Ao se discutir sobre informação no campo da Ciência da Informação, recorda- se das distinções de Buckland (1991): informação como processo, informação como conhecimento e informação como coisa. Essas abordagens surgem do princípio de que a informação tem a premissa básica de tornar algo ou alguém informado, reduzindo a ignorância (BUCKLAND, 1991, p. 351). Desta forma, partindo do princípio de Buckland (1991), como as notícias falsas impactam o usuário da informação da formação do conhecimento? O advento tecnológico pode ser citado como vetor facilitador para acesso, criação e disseminação de notícias falsas. O que começou como uma pesquisa1, configura-se hoje como o maior sistema de comunicação do mundo. Segundo a União Internacional de Telecomunicações (UIT), 4,1 bilhões de pessoas estão conectadas à rede, o que equivale a 51% da população mundial2.

    Desta forma, a arquitetura aberta da Iinternet, com capacidade de crescer indefinidamente, torna o espaço fluido e em constante movimento,


    1 A Internet surgiu como uma rede de computadores montada pela Advance Research Projects Agency (ARPA), em 1969, com fins de estimular a pesquisa para atingir a superioridade tecnológica militar.

    2 Disponível em: https://itu.foleon.com/itu/measuring-digital-development/internet- use/. Acesso em: 14 de janeiro de 2020.


    onde “[...] todas as pessoas podem, potencialmente, contribuir com algum elemento para a constituição de um conjunto de saberes que, sem pertencerem especificamente a ninguém, estão à disposição de todos para serem usados e transformados” (MARTINO, 2014, p. 31). Neste cenário, o impacto que o crescimento tecnológico causou na sociedade modificou a forma de produzir e usar informação, como demonstra pesquisa feita pelo Data Senado3, apontando a rede social WhatsApp como a principal fonte de informação para 79% dos entrevistados. Neste sentido, é preciso desenvolver mecanismos para identificar informações falsas. “Nessa direção, tem-se a competência em informação, que se refere a um conjunto de habilidades necessário ao indivíduo para definir suas necessidades informacionais, buscar, usar e compartilhar a informação” (LCARÁ; PEREIRA, 2021, p.4). Desta forma, compreende-se que a formação de usuários aptos a identificar desinformação é uma alternativa no combate as fake news.


  3. ÉTICA DA (E NA) INFORMAÇÃO


    A liberdade de expressão é garantida no Brasil pela Constituição Federal de 1988. Para Buchanan (2014, p.2), o direito de se comunicar é dividido em três elementos: buscar, receber e transmitir informações, onde cada elemento sofreu alteração ao longo dos anos com o


    3 Disponível em: https://www12.senado.leg.br/institucional/datasenado/arquivos/mais-de-80-dos- brasileiros-acreditam-que-redes-sociais-influenciam-muito-a-opiniao-das-pessoas. Acesso: 14 de janeiro de 2020.


    desenvolvimento de novas tecnologias. Antes, buscavam-se informações em jornais, revistas, livros e enciclopédia, hoje, basta um smartphone conectado a rede de Internet para ter acesso a um universo de saberes. Se antes o usuário recebia a informação por meio do sistema linear, na atualidade o modelo é não linear e todos produzem e usam informação em um ciclo de retroalimentação. Este cenário evidencia outra mudança: se antes a preocupação era em se obter informações, hoje se acrescenta a necessidade de saber se essa informação é verdadeira.

    Como disciplina, a ética surge no contexto da filosofia prática aristotélica que a inclui como reflexão sobre a formação do caráter individual (ethos) relacionado com a reflexão sobre as regras do bem viver (CAPURRO, 2017, p. 49). Posteriormente, o termo ética passou a ser utilizado de forma ambígua para se referir aos próprios costumes (ethos) do indivíduo na sociedade. No contexto acadêmico, entende-se por ética “uma reflexão crítica sobre as regras e costumes vigentes nas sociedades, isto é, uma fundamentação, ou melhor, seguindo o pensamento de Michel Foucault, uma problematização da moral vigente no sentido de formas possíveis de se autoconceberem como sujeito na sociedade” (CAPURRO, 2017, p. 49).

    Em um contexto específico, a ética da informação pode ser entendida como


    [...] uma reflexão crítica sobre as normas e valores vigentes nas sociedades da informação e conhecimento. Esta reflexão pode ser descritiva ou emancipatória. Como reflexão descritiva, explora as estruturas de poder que determinam as atitudes e costumes informacionais e comunicacionais, assim como o desenvolvimento de conflitos éticos nesse campo. A ética da informação não é algo que se sobreponha de fora como um sistema ou um código de deveres e proibições morais, mas é, na verdade, uma problematização de tais


    normas e valores implícitos em códigos legais ou morais (CAPURRO, 2017, p. 50).


    Na atualidade, as discussões sobre a temática ganham uma nova roupagem assumindo pautas como liberdade de expressão e direito a privacidade. É nesse contexto que questões relacionadas à produção de conteúdo enganoso se apresentam como um desafio para os estudos em ética da informação, pois ela “[...] deveria ser capaz de clarear e resolver os desafios éticos que estão surgindo na infosfera” (FLORIDI, 2013, p.42,). Desta forma, pode-se pensar que a ideia de desinformação ocasionada pelas fake news trata-se de uma responsabilidade coletiva, pois “As comunidades do ciberespaço constituem-se na troca constante de conhecimentos que circulam, são modificados, reconstruídos, aumentados e editados de acordo com as demandas específicas de uma determinada situação” (MARTINO, 2014, p. 31).

    Assim, a criação do consórcio dos veículos de comunicação para apresentar dados verdadeiros da pandemia do coronavírus foi impulsionada pela necessidade de se ter uma fonte confiável para buscar informações sobre a pandemia no Brasil. A mudança feita pelo Ministério da Saúde quanto à divulgação de dados sobre a evolução do coronavírus no Brasil também impulsionou o surgimento deste consórcio de jornalismo, pois inicialmente, os dados eram divulgados às 17h, depois passou para as 19h e posteriormente para as 22h, dificultando e, por vezes, inviabilizando a veiculação dos dados por telejornais e veículos impressos. Outra mudança aconteceu qualitativamente, o portal onde era divulgado o número de mortos e contaminados foi retirado temporariamente do ar, retornando com alterações. Informações como curva de casos novos por data de notificação e por semana


    epidemiológica; casos acumulados por data de notificação e por semana epidemiológica; mortes por data de notificação e por semana epidemiológica; e óbitos acumulados por data de notificação e por semana epidemiológica foram retirados do site, estando disponível apenas informações sobre os casos registrados no próprio dia. Essa medida retirou do ar dados consolidados como o número de contaminados e o histórico da doença no Brasil, bem como tabelas, instrumento importante para análises de pesquisadores e profissionais da informação. Posteriormente, após críticas, o Governo afirmou que retornaria a informar os dados, porém, o que foi apresentado foram informações conflitantes.

    Desde sua criação, o consórcio tem sido fonte de informação para muitos veículos de comunicação, pautando, diariamente, os noticiários. A criação deste consórcio reflete a luta dos profissionais da informação em prol da transparência dos dados e contra a desinformação. Este fato reafirma a necessidade de entender o fenômeno das fake news, já que está gerando tantas mudanças e transformações sociais e impactado a forma como nos relacionamos com a informação.

    Neste contexto, faz-se necessário entender esta cultura e o processo de desinformação ocasionado pela propagação de fake news para assim, compreender o impacto que os mesmos possuem na sociedade. Para buscar uma visão pontual sobre a temática, analisou-se a produção de pesquisadores da área de pós-verdade, ética e pós- verdade e profissionais que trabalham com a análise das múltiplas narrativas trazidas pela pós-verdade, bem como apresentar postulados teóricos sobre competência em informação e discutir se a formação de usuários com tais competências seria uma alternativa a desinformação.


  4. NEWS, FAKES E PÓS-VERDADE


    A sociedade atual encontra-se rodeada de informações e o desafio é identificar quais delas são confiáveis. Pós-verdade e fake news são dois termos que vem ganhando notoriedade na contemporaneidade, ocasionando mudanças na forma de se buscar e usar informação. O impacto dos fenômenos tem sido crescente que em 2016 o dicionário Oxford definiu “pós-verdade” como a palavra do ano, sendo “um adjetivo relacionado ou evidenciado por circunstâncias em que fatos objetivos têm menos poder de influência na formação da opinião pública do que apelos por emoções ou crenças pessoais” (2018, p. 47). Desta forma, na pós- verdade ocorre a transferência da autoridade científica para a opinião pessoal, sendo sustentada por crenças pessoais e fatores psicológicos como a identificação com o conteúdo, o desdém pela confirmação científica e a relativização de fatos em detrimento a crenças pessoais (ARAÚJO, 2018).

    Dunker (2017, p. 8) defende a ideia de que pós-verdade, “longe de ser um aprofundamento do programa cultural e político do pós- modernismo, é uma espécie de reação negativa a esta”. Onde a “pós- verdade seria uma segunda onda do pós-modernismo” (DUNKER, 2017, p. 9).


    Assim como a pós-modernidade trouxe o debate relevante sobre, afinal, como deveríamos entender a modernidade e principalmente o sujeito moderno, penso que a pós-verdade inaugura uma reflexão prática e política sobre o que devemos entender por verdade e sobre autoridade que lhe é suposta (DUNKER, 2017, p. 9).


    Neste cenário é possível perceber que a pós-verdade é sustentada por meio da disseminação de informações falsas e pela facilidade de produzi-las e reproduzi-las. “O domínio de ferramentas de montagem e compartilhamento de imagens generalizada, simplifica o processo de criar e compartilhar mensagens falsas, o que dificulta o rastreamento de sua fonte” (ALVES, 2018, p. 213). Esse domínio está mais presente devido a facilidade de se obter e manusear aplicativos em smartphones, esses estão cada vez mais intuitivos e didáticos. Neste cenário, o aplicativo Whatsapp figura como o mais baixado entre os brasileiros em 20194. Outro fator tem sido determinante para que as fake news se sustentem: o poder de penetração dessas notícias falsas. Assim, “É possível perceber que a criação de fake news se adéqua a interfaces das redes sociais digitais. São conteúdos que contém informações claras que carregam mensagens alusivas e fáceis de serem interpretadas e captadas rapidamente pelo olhar que acompanha o feed de notícias” (ALVES, 2018,

    p. 213). Desta forma, pode-se perceber que “a credibilidade dada às falsas verdades expõe um momento em que busca pela verdade é colocada em segundo plano ou ainda é desconsiderada no ato de ponderação e tomada de decisões políticas e éticas” (ALVES, 2018, p. 213). Assim, fatos tem menos valor que informações que se adéquam a necessidade pessoal do viés de confirmação do usuário.


  5. METODOLOGIA


4 De acordo com estudo da consultoria de mídia App Annie. Disponível em: https://revistapegn.globo.com/Banco-de-ideias/Mundo- digital/noticia/2020/01/whatsapp-foi-o-app-mais-baixado-no-brasil-e-no-mundo-em- 2019.html. Acesso: 19 de janeiro de 2020


A pesquisa apresenta natureza básica, pois se direciona a aquisição de conhecimentos. Foi o que se pretendeu ao estudar, analisar e entender a ética na informação em relação a disseminação de fake news. Quanto aos objetivos, a pesquisa por seu teor, pode ser definida como exploratória e descritiva. Enquanto exploratória, necessita de aprofundamento, pois busca, conforme Gil (2010, p. 27) “[...] proporcionar mais familiaridade com o problema [...]”. Já como descritiva, em função da necessidade em descrever o fenômeno das fake news e os princípios estabelecidos pela International Fact-Checking Network.

Utilizou-se, também, da pesquisa documental. Apesar de o conteúdo analisado estar disponibilizado em ambiente virtual, o mesmo pode ser definido como documento eletrônico, pois é uma fonte de informação oficial do site analisado. Neste sentido, embasou-se a discussão em postulados teóricos de Capurro (2017), que traz uma visão sobre a ética da informação e Martino (2014) que discute a arquitetura aberta da Internet e as múltiplas possibilidades do ciberespaço. Buckland (1991) com uma visão do conceito de informação na Ciência da Informação e Floridi (2013) por apresentar postulados sobre ética da informação.


  1. RESULTADOS PARCIAIS


    A abertura e o incentivo para que os usuários deixassem o lugar de apenas receptor de informação para assumir papel mais ativo no ciclo informacional possibilitou e deu base para fenômenos estudados atualmente, como a pós-verdade, o processo de desinformação e as fake


    news. Isso porque, a desordem informacional causada por esses usuários tem impactado a sociedade de forma ampla e em escala global.

    O grande fluxo de informações falsas circulantes na atualidade ocasionou o surgimento de sites destinados à checagem de fatos. A International Fact-Checking Network (IFCN) é uma organização que trabalha em prol ao combate as fake news ao redor do mundo, sendo uma iniciativa do Instituto Poynter de Estudos de Mídia, escola de jornalismo sem fins lucrativos localizada na Flórida, cuja validação dada aos veículos de checagem de informação legitima o trabalho destes sites, conforme princípios estabelecidos e listado no Quadro 1.


    Quadro 1 – Princípios estabelecidos pela International Fact-Checking Network

    Compromisso

    Definição

    Apartidarismo e equidade

    Transparência das

    fontes

    - Disponibilização de fontes utilizadas para

    checagem.

    Transparência de financiamento e organização

    - Transparência quanto à origem do financiamento recebido para manutenção do trabalho.

    Transparência de método

    - Metodologia deve ser clara para eu o usuário entenda os processos.


    Correções francas e amplas

    - Compromisso com correções, caso necessário, mostrando clareza e transparência.

    Fonte: Instituto Poynter de Estudos de Mídia (2021)


    Verificou-se que além de promover a certificação dos sites de checagem em todo mundo, a IFCN oferece treinamento para checadores e monitora tendências e políticas sobre verificação de fatos em todo o mundo. Além disso, estimula a colaboração entre países para a verificação de fatos em âmbito internacional. Essas ações potencializam o serviço de checagem e oportunizam aos usuários conteúdos seguros e verificados. “A indústria da desinformação se aproveita da natureza transfronteiriça da própria Internet e das aplicações que se consolidaram como modelos de negócio altamente eficientes na economia de dados” (PARAJO et al. 2020, p. 25). Desta forma, fazem-se necessárias iniciativas para combater a desordem informacional na sociedade.

    No Brasil existem sites que são signatários da IFCN, como por exemplo, Aos Fatos e Lupa. Ambos realizam o trabalho de verificação de informação e classificação de conteúdo prezando pela ética e verdade dos fatos.


  2. CONSIDERAÇÕES FINAIS


As notícias falsas tem se espalhado rapidamente na sociedade atual, ganhando um espaço importante na área da Ciência de Informação como objeto de estudo, buscando-se entender seu impacto no cotidiano social. A partir de reflexões e estudos bibliográficos, identificou-se que o fenômeno da pós-verdade, apesar de bastante comentado atualmente, não é recente. Entretanto, seu destaque na contemporaneidade se deve


ao advento tecnológico, que vem amplificando o poder de disseminação de fake news.

Percebe-se que pela arquitetura aberta da web, qualquer usuário pode produzir e compartilhar conteúdo. Isso torna a Internet o maior sistema de publicação do mundo. Assim, entende-se que a pós-verdade é sustentada por meio da disseminação de informações falsas e pela facilidade de produzi-las e reproduzi-las, onde o domínio de técnicas para montagem e compartilhamento de informação potencializa seu alcance e, consequentemente, seus danos.

Além do domínio técnico, conclui-se que o poder de penetração dessas notícias falsas tem maior impacto à medida que sejam adequadas as crenças de quem recebe e compartilha. Ou seja, a carga pessoal interfere no processo de credibilidade do conteúdo informacional recebido. Percebe-se assim, que os fatos acabam tendo menos poder de influência na formação da opinião pública do que apelos por emoções ou crenças pessoais. A criação de sites destinados à checagem e verificação de informações figura como uma importante medida para combate a desinformação na atualidade.


REFERÊNCIAS


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