Humanidades digitais e CImplifica: questões contemporâneas de informação


Digital Humanities and CImplifica: Contemporary Information Issues


Humanidades digitales y CImplifica: Cuestiones informativas contemporáneas


Májory Karoline Fernandes de Oliveira Miranda

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Brasil


Maria Valquíria Monteiro da Cruz Jacob

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Brasil


Licença:



Autor para correspondência: Májory Karoline Fernandes de Oliveira Miranda

E-mail: majory.oliv@ufpe.br

ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3523-7756


Como citar:

MIRANDA, Májory Karoline Fernandes de Oliveira; JACOB, Maria Valquíria Monteiro da Cruz. Humanidades digitais e o CImplifica: questões contemporâneas de informação. REBECIN, São Paulo, v. 9,


número especial, p. 1-13, 2022. DOI: 10.24208/rebecin.v9inúmero especial.343

RESUMO


O estudo das Humanidades Digitais está para a Ciência da Informação (CI), desde o início no século XX ligado ao contexto das transformações da informação com os tipos documentais, pioneiramente difundidos por Paul Otlet e Suzanne Briet. A pesquisa tem como objetivo geral refletir sobre o papel das Humanidades Digitais (HDs) na CI a partir da plataforma de podcast CImplifica. Como objetivos específicos propomos discutir a área da Documentação, relacionada às Humanidades Digitais; mapear o panorama de pesquisa da CI; analisar as relações disciplinares no âmbito da CI. Trata-se de uma pesquisa descritiva e bibliográfica, com análise da plataforma digital de podcast CImplifica. O CImplifica materializa as relações das HDs com a CI, a partir das características assentes na neodocumentação e do novo modelo de pós-custódia. Como instrumento para análise e melhor compressão dos objetivos específicos supracitados aplicamos os mapas conceituais (MC). Considera-se que a CI, a democratização da informação, sua produção e uso de formatos colaborativos fazem parte da cultura digital denominada HDs, e integra o modelo de pós-custódia, em que a informação é representada pela premissa revisitada de neodocumentais.


Palavras-Chave: Humanidades Digitais; Multidisciplinaridade; Interdisciplinaridade; Transdisciplinaridade; Podcast Cimplifica.


ABSTRACT


The study of Digital Humanities is for Information Science (CI), since the beginning of the 20th century, linked to the context of information transformations with documentary types, pioneered by Paul Otlet and Suzanne Briet. The research has as general objective to reflect on the role of Digital Humanities (HDs) in CI from the podcast platform CImplifica. As specific objectives we propose to discuss the area of Documentation, related to Digital Humanities; map the CI research landscape; analyze disciplinary relationships within the scope of CI. This is a descriptive and bibliographical research, with analysis of the digital podcast platform CImplifica. CImplifica materializes the relationships between HDs and CI, based on characteristics based on neo-documentation and the new post-


custody model. As an instrument for analysis and better understanding of the specific objectives mentioned above, we apply the concept maps (CM). It is considered that CI, the democratization of information, its production and use of collaborative formats are part of the digital culture called HDs, and integrates the post-custody model, in which information is represented by the revisited premise of neodocumental.


Keywords: Digital Humanities; Neo-documentation; Concept Maps; Interdisciplinarity; Cimplifica Podcast.


RESUMEN


El estudio de las Humanidades Digitales está para la Ciencia de la Información (CI), desde principios del siglo XX, vinculado al contexto de las transformaciones de la información con tipos documentales, de las que fueron pioneros Paul Otlet y Suzanne Briet. La investigación tiene como objetivo general reflexionar sobre el papel de las Humanidades Digitales (HDs) en la CI desde la plataforma de podcast CImplifica. Como objetivos específicos nos proponemos discutir el área de la Documentación, relacionada con las Humanidades Digitales; mapear el panorama de la investigación en CI; analizar las relaciones disciplinarias en el ámbito de la CI. Se trata de una investigación descriptiva y bibliográfica, con análisis de la plataforma digital de podcast CImplifica. CImplifica materializa las relaciones entre las DH y la IC, a partir de características basadas en la neo-documentación y el nuevo modelo de post-custodia. Como instrumento de análisis y mejor comprensión de los objetivos específicos mencionados, aplicamos los mapas conceptuales (MC). Se considera que la IC, la democratización de la información, su producción y el uso de formatos colaborativos forman parte de la cultura digital denominada HDs, e integra el modelo de postcustodia, en el que la información se representa mediante la premisa revisada de neodocumental.


Palabras clave: Mapas conceptuales; Interdisciplinariedad; Cimplifica Podcast.


  1. INTRODUÇÃO


    Conforme Santos (2018, p. 238), o debate entre o documento e o neodocumento é pautado “na continuidade do registro da informação num determinado suporte, seja ele físico – caráter intrínseco ao conceito de documento – ou digital – gênese do paradigma neodocumentalista”.

    Sendo assim, a neodocumentação se alinha ao modelo das Humanidades Digitais porque traz novos formatos de informação, alinhados ao contexto da rede mundial de computadores. Tendo isto posto, podemos considerar como neodocumentos os registros informacionais encontrados em meio digital, incluindo àqueles alocados em plataformas de streaming, a exemplo do Youtube, Netflix e do Spotify, o que nos direciona ao objeto de estudo desta pesquisa.

    Com o aumento crescente de novas formas de divulgação de informação na cultura digital, as Humanidades Digitais (HDs), como modelo informacional contemporâneo, estão relacionadas aos estudos e formatos de neodocumentação e estão assentes no contexto digital. Este modelo parte da análise das relações humano-máquina, informação em plataformas digitais, locus da CI, em que registros são representações para promoção das práticas e serviços de informação à serviço dos sujeitos informacionais.

    Um podcast 100% voltado para a área de Ciência da Informação também mostra também as relações entre as disciplinas irmãs, como a Biblioteconomia, Gestão da Informação, Arquivologia e Museologia, quando temas pertinentes a elas são discutidos por profissionais, sejam eles do mercado ou acadêmicos, convidados a participarem do podcast. Foi proposto para esse trabalho, como objetivo geral:


  2. REVISÃO DE LITERATURA


    1 Acessível pelo site https://cimplifica.com/


    O estudo das Humanidades Digitais segundo Russell (2011, p. 3) remonta o ano de 1974, quando pela primeira vez um computador foi usado para fazer o trabalho que antes era feito por humanos.

    Ainda segundo a autora, o termo “Humanidades Digitais” (HDs) engloba um novo campo interdisciplinar, cuja finalidade é entender o impacto e a relação das tecnologias computacionais no trabalho dos pesquisadores das Ciências Humanas. A autora ainda complementa que os objetivos das HDs seriam:

    1. Crear bases de datos con recursos digitales relevantes para las Humanidades. Esto incluye la captura, estructuración, documentación, preservación y diseminación de los datos.

    2. Desarrollar metodologías que permitan generar nuevos elementos derivados de estos datos.

    3. Generar investigación y conocimiento para incrementar nuestra comprensión en las Humanidades. (RUSSELL, 2011, p. 3).


    Sob o paradigma custodial, bibliotecas e arquivos costumavam ser considerados locais de conservação da memória pois tinham como finalidade servir aos interesses culturais e de investigação sem foco na democratização. O documento tradicional - suportes materiais de informação, majoritariamente em papel – teve o seu lugar ocupado por uma realidade virtual que permitiu a reprodução sem fronteiras e a sua localização em múltiplos espaços desta forma exigindo diferentes posturas no cenário contemporâneo (RIBEIRO, 2005).

    Historicamente, a situação pós Segunda Guerra estimulou, nos países desenvolvidos, interesses pelas práticas de ciência e tecnologia, gerando aumento de conhecimentos e consequentemente o que


    chamamos de fenômeno de “explosão de informação” aliados à ciência e tecnologia (OLIVEIRA, 2005). Mais tarde, a combinação da digitalização e da internet afetou o quotidiano dos indivíduos, bem como a estrutura de produção de bens e serviços nos conglomerados humanos, provocando uma espécie de avalanche informativa (CASTILHO, 2015).

    Na contemporaneidade, a realidade é governada pela lógica digital que ultrapassa espaço e tempo e se desenvolve sob uma nova ordem do conhecimento, desafiando e exigindo mudanças nos modelos tradicionais do campo da Ciência da Informação a fim de se adequar ao novo contexto digital. (LEMOS; JORENTE; NAKANO, 2014). Como exemplo dessa adequação, podemos citar a Neodocumentação, que se alinha ao modelo das Humanidades Digitais trazendo novos formatos de informação. Todavia, este revisitar busca suas origens em Briet (2016, p.1), que explica


    Se aludirmos às definições ‘oficiais’ da Union Française des Organismes de Documentation (UFOD), verifica-se que ‘documento’ é assim explicado: “toda base de conhecimento fixada materialmente e suscetível de ser utilizada para consulta, estudo ou prova”.


    Podemos então entender o documento como sendo algo palpável,

    como



    o livro, a revista, o jornal, é a peça de arquivo, a estampa, a fotografia, a medalha, a música, é também atualmente o filme, o disco e toda a parte documental que prece ou sucede a emissão radiofônica. (OTLET, 1937 apud TANUS, 2012, p.159).


    Conforme Santos (2018, p. 238), o debate entre o documento e o neodocumento é pautado “na continuidade do registro da informação num determinado suporte, seja ele físico – caráter intrínseco ao conceito de


    documento – ou digital – gênese do paradigma neodocumentalista”. Sendo assim, a neodocumentação se alinha ao modelo das Humanidades Digitais porque traz novos formatos de informação, alinhados ao contexto da rede mundial de computadores. Tendo isto posto, podemos considerar como neodocumentos os registros informacionais encontrados em meio digital, incluindo àqueles alocados em plataformas de streaming, a exemplo do Youtube, Netflix e do Spotify, o que nos direciona ao objeto de estudo desta pesquisa.


  3. METODOLOGIA


    A presente pesquisa trata-se de uma pesquisa descritiva tendo como corpus teórico as Humanidades Digitais, modelo das práticas de documentação e neodocumentação na Ciência da Informação e o podcast Cimplifica para representação prática.

    A pesquisa bibliográfica resultou em artigos e livros a respeito das Humanidades Digitais, da Neodocumentação e dos Mapas Conceituais. Buscou-se caracterizar os conceitos de Humanidades Digitais e da Neodocumentação, como corpus teórico da pesquisa inserida.

    O CImplifica podcast foi descrito a partir dos Mapas Conceituais utilizadas como instrumento para análise da multi e interdisciplinaridade entre os diversos episódios estudados.

    O material usado para a elaboração e posterior análise dos Mapas Conceituais foram as primeiras 10 entrevistas realizadas para o CImplifica podcast. Destas entrevistas, foram coletados, pelo princípio da inferência, conceitos considerados relevantes dentro do contexto da entrevista. A escolha dos conceitos chave foi baseada no processo indexatório de


    classificação e catalogação da biblioteconomia, ainda que se tenha levado em consideração a importância subjetiva dos termos durante a escolha dos mesmos. Sobre o processo de escolha dos termos indexadores, Lancaster (2004, p.9) afirma que uma indexação de assuntos eficiente se reveste de provável interesse para determinado grupo de usuários.

    Sendo assim, os conceitos chave foram determinados a partir de sua ligação direta e especificidade com o tema do episódio.


  4. RESULTADOS


    Realizada escolha dos termos, usou-se o programa CMaps tools para a confecção dos mapas conceituais. A escolha deste aplicativo específico se deve a sua gratuidade e sua usabilidade simples. Os termos conceituais escolhidos foram organizados dentro de “espaços” demarcados, indicando sua existência nos episódios específicos, devidamente intitulados, como se vê nas figuras 1 e 2.


    Figura 1 - Mapa Conceitual referente aos episódios 1 a 5 do CImplifica


    Fonte: As autoras


    Figura 2 - Mapa Conceitual referente aos episódios 6 a 10 do CImplifica

    Fonte: As autoras


    Foi possível perceber, com a criação dos dois Mapas Conceituais (figuras 1 e 2), que o viés dos cinco primeiros episódios do CImplifica podcast esteve voltado majoritariamente para questões ligadas a Memória e a Custódia da Informação. Isso é evidenciado pelos marcadores do conceito “Memória” que aparecem em 4 das 5 entrevistas. Já o 2º mapa, relativo aos episódios 6 a 10, deixa claro que o viés das entrevistas muda para questões ligadas a Gestão, que aparece consistentemente também em 4 das 5 entrevistas da sessão.


  5. CONSIDERAÇÕES FINAIS


O projeto de pesquisa desenvolvido tinha como proposta inicial a reflexão sobre as HDs e os formatos da Neodocumentação num contexto digital e atrelado a CI, tendo como ambiente de análise o CImplifica podcast, cujo conteúdo analisado foi representado através dos mapas conceituais. Porém, a partir dessa representação, surgiram outros questionamentos, ligados ao cenário político, social, histórico brasileiro e


a intencionalidade informacional do objeto de estudo. Esses novos questionamentos demonstram o valor dos instrumentos das plataformas digitais para a democratização da informação.

O mapa conceitual é uma ferramenta que transcende o campo da aprendizagem significativa. Sua escolha expôs de forma gráfica a relação entre diversos assuntos em diversos episódios de um mesmo podcast. Desta forma, fica clara a relação disciplinar entre os conceitos chave extraídos das entrevistas lançadas pelo CImplifica, bem como a eficácia do mapa conceitual como ferramenta para mapeamento e panorama da informação.


REFERÊNCIAS


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