Movimentos antifeministas e desinformação: uma análise dos discursos promovidos no Instagram


Anti-feminist movements and disinformation: an analysis of the speeches promoted on Instagram


Movimientos antifeministas y desinformación: un análisis de los discursos promovidos en Instagram


Mayara Paula Atanásio Soares da Silva

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Brasil


Girlaine Pergentino Gomes

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Brasil


Licença:



Autor para correspondência: Mayara Paula Atanásio Soares da Silva

Email: mayara.atanasio@ufpe.br

ORCID: 0000-0002-8231-7196


Como citar:

SILVA, Mayara Paula Atanásio Soares Da; GOMES, Girlaine Pergentino. Movimentos antifeministas e desinformação: uma análise dos discursos promovidos no Instagram. REBECIN, São Paulo, v. 9, número especial, p. 1-13, 2022. DOI: 10.24208/rebecin.v9inúmero especial.329


RESUMO


O novo contexto informacional evidenciado pela facilidade na disseminação de informação e uso exacerbado das redes sociais, como o Instagram, gera indagações relacionadas à veracidade e confiabilidade dos dados repassados pelos usuários nessas plataformas. Deste modo, o termo desinformação vem sendo frequentemente debatido pelos estudiosos da ciência da informação, e gera um alerta para a propensão do surgimento de informações tendenciosas ou inverídicas nas mídias sociais. Seguindo nesse viés e partindo do pressuposto que o movimento feminista é a principal ferramenta na luta por respeito e igualdade de direitos entre gêneros, determina-se que a competência crítica em informação seja o principal recurso para a conscientização coletiva, reflexão e debate acerca deste tema na sociedade. Portanto, o objetivo desse estudo é buscar esclarecer como a desinformação pode ser propagada no Instagram de forma massiva por movimentos sociais de oposição, no caso desta pesquisa, o antifeminismo, que tem como intuito contradizer e escarnecer o movimento feminista. As publicações a serem analisadas serão extraídas de postagens realizadas na plataforma. Os métodos utilizados serão uma tríade da análise das redes sociais, levantamento bibliográfico e documental, caracterizando essa pesquisa como de natureza qualitativa. A importância de debater sobre as temáticas a serem tratadas nesta pesquisa relaciona-se à necessidade iminente de se construir uma sociedade igualitária a nível sociocultural e informacional.

Palavras-Chave: Desinformação; Movimentos Sociais; Instagram; Feminismo; Antifeminismo.


ABSTRACT


The new informational context evidenced by the ease in disseminating information and the exacerbated use of social networks, such as Instagram, raises questions related to the veracity and reliability of the data passed on by users on these platforms. Thus, the term disinformation has been frequently debated by researchers of information science, and it raises an alert for the propensity of the emergence of biased or untrue information in social media. Following this bias and assuming that the feminist movement is the main tool in the fight for respect and equality of


rights between genders, it is determined that the critical competence in information is the main resource for collective awareness, reflection and debate on this topic in society. Therefore, the objective of this study is to clarify how disinformation can be massively propagated on Instagram by oppositional social movements, in the case of this research, antifeminism, which aims to contradict and mock the feminist movement. The publications to be analyzed will be extracted from posts made on the platform, and the methods used will be a triad of analysis of social networks, bibliographic and documentary research, characterizing this research as qualitative in nature. The importance of debating the themes to be addressed in this research is related to the imminent need to build an egalitarian society at a sociocultural and informational level.


Keywords: Disinformation; Social movements; Instagram; Feminism; Anti-feminism.


RESUMEN


El nuevo contexto informativo que evidencia la facilidad de difusión de la información y el uso exacerbado de las redes sociales, como instagram, plantea interrogantes relacionados con la veracidad y confiabilidad de los datos transmitidos por los usuarios en estas plataformas. De esta forma, el término desinformación ha sido debatido con frecuencia por los estudiosos de las ciencias de la información, y genera una alerta sobre la propensión a la aparición de información sesgada o falsa en las redes sociales. Siguiendo este sesgo y asumiendo que el movimiento feminista es la principal herramienta en la lucha por el respeto y la igualdad de derechos entre los géneros, se determina que la competencia crítica en información es el principal recurso para la sensibilización, reflexión y debate colectivo sobre este tema en la sociedad. . Por tanto, el objetivo de este estudio es buscar esclarecer cómo la desinformación puede ser propagada masivamente en Instagram por los movimientos sociales de oposición, en el caso de esta investigación, el antifeminismo, que pretende contradecir y burlarse del movimiento feminista. Las publicaciones a analizar serán extraídas de post realizados en la plataforma. Los métodos utilizados serán una tríada de análisis de redes sociales, levantamiento bibliográfico y documental, caracterizándose esta investigación como de carácter cualitativo. La importancia de debatir los temas a abordar en esta investigación está relacionada con la necesidad


inminente de construir una sociedad igualitaria a nivel sociocultural e informacional.


Palabras clave: Desinformación; Movimientos sociales; Instagram; Feminismo; Antifeminismo.


  1. INTRODUÇÃO


    A desinformação vem ganhando atenção na última década, principalmente por pesquisadores da área da ciência da informação e comunicação. Brisola e Bezerra (2018) evidenciam que a desinformação é tendenciosa e “não é necessariamente falsa; muitas vezes, trata-se de distorções ou partes da verdade”. Com a adaptação dos suportes informacionais e com o desenvolvimento das tecnologias, o acesso a dados e conteúdos, tem sido, em sua maioria, realizado através das plataformas digitais, principalmente redes sociais.

    O Instagram é uma das plataformas mais utilizadas no mundo, e atualmente é o principal aplicativo de compartilhamento de fotos, possuindo o status de segunda maior rede social do mundo, perdendo apenas para o Facebook. Romeiro (2019) explica que atualmente o instagram é considerado um canal de comunicação importante e que atinge uma vasta gama de públicos. Deste modo, movimentos sociais, como o feminismo, utilizam a plataforma como um espaço de expansão de suas ideologias e em contrapartida, movimentos de oposição também ganham espaço. O contexto político e os princípios religiosos somam-se ao discurso propagado pelos adeptos ao antifeminismo, que criam perfis nas redes sociais com o intuito de realizar objeções às páginas e vozes feministas. Posto isso, a pesquisa objetiva esclarecer como o Instagram


    pode vir a ser uma ferramenta aliada ao processo de desinformação e como os perfis antifeministas podem contribuir com esse processo, através de postagens que refutam e satirizam os ideais do movimento feminista. Justifica-se a elaboração dessa pesquisa a partir do âmbito social, onde pretende-se com esse estudo fomentar o pensamento crítico e a reflexão individual no que concerne a demanda informacional que acomete o contexto contemporâneo.


  2. REVISÃO DE LITERATURA


    No século XX questões voltadas à empregabilidade sofrem mudanças drásticas quando os locais de trabalho feminino não se restringem aos serviços domésticos, surgindo assim a “primeira onda” do feminismo que ganhou proporções na França, Inglaterra, Alemanha e principalmente nos Estados Unidos. Porém, o movimento foi amenizado com a chegada da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) diante disto a sociedade se deu conta de que as mulheres poderiam exercer as atividades dominadas pelos homens, que nesse caso estavam na linha de frente da guerra.


    O século XIX levou a divisão das tarefas e a segregação sexual ao seu ponto mais alto. Seu racionalismo procurou definir estritamente o lugar de cada um. Lugar das mulheres: a maternidade e a casa, confinadas às tarefas ditas não- qualificadas, subordinadas. (DE JESUS; ALMEIDA, 2016, p.4).


    Após a Revolução Industrial começam a surgir as primeiras ativistas do movimento sufragista, tendo sido o Reino Unido o palco para o início das atividades feministas. O termo sufrágio consiste no direito político da


    sociedade, diante da constituição federal, onde é possível votar e ser votado, representando assim uma manifestação da sociedade diante de situações e decisões voltadas à vida pública e política.


    [...] O movimento feminista [...] diminuiu suas atividades diante das prioridades da Primeira Guerra Mundial (1914-1918); durante o conflito, com os homens no front, as mulheres acabaram por assumir funções e papéis que antes pertenciam ao mundo masculino. Após a guerra, com a volta à "normalidade", o feminismo retomou suas atividades sufragistas e as mulheres conquistaram não só o direito de eleger, mas também de serem eleitas (DE JESUS; ALMEIDA, 2016, p.5).


    Apesar do movimento feminista possuir proporções mundiais, ainda há lacunas e melhoramentos que precisam ganhar destaque e ser debatido nos dias atuais, como a igualdade social entre homens e mulheres, questões de feminicídio, saúde preventiva, métodos contraceptivos, leis de suporte ao abuso e assédio e outros temas que compreendem a saúde, liberdade e direito da mulher.

    Ainda que a luta feminina seja reconhecidamente necessária, ainda há um discurso contrário que evidencia a discriminação e o preconceito, descredibilizando o movimento feminista. Compreende-se assim que o antifeminismo pode ser definido como maior oposição às diferentes vertentes do feminismo. Hodiernamente, é possível encontrar discursos em oposição ao feminismo em plataformas como Facebook, Twitter, Youtube e Instagram. Langner, Zuliani e Mendonça (2015) determinam que “é inegável o impacto que o surgimento das novas tecnologias da informação e comunicação (TICs) tiveram sobre os movimentos sociais, tanto no que concerne a sua caracterização, como no que concerne às suas estratégias de ativismo e ação”. Brisola e


    Bezerra (2018) versam que a estrutura de redes sociais digitais se diferencia pela propagação fácil e potencialmente abrangente sem verificação ou julgamento editorial.

    A competência crítica em informação se torna a solução para a análise, filtragem e compreensão crítica do que está sendo consumido pelos usuários das diferentes redes sociais. Para Belluzzo, Santos e Almeida Júnior (2014, p. 61), é importante que as pessoas se mantenham atualizadas, mas que consigam tomar decisões pertinentes de acordo com a sua demanda informacional, tornando-se “necessário que as pessoas tenham competências e habilidades em informação para reconhecer suas necessidades informacionais, buscar, selecionar, avaliar criticamente e compartilhar a informação em diversas fontes”, sendo essas as ações que compreendem a competência informacional. Diante deste pressuposto será apresentado nos resultados parciais deste resumo uma análise mais aprofundada sobre esses tipos de discursos presentes no Instagram.


  3. METODOLOGIA


    Os métodos utilizados para a realização desta pesquisa se concentram no contexto bibliográfico e exploratório, com a abordagem do tipo qualitativa. Gil (2008) explica como a pesquisa bibliográfica é indispensável nos estudos históricos, como no caso das origens do feminismo apresentadas nesse projeto ao declarar que “Em muitas situações, não há outra maneira de conhecer os fatos passados senão com base em dados secundários”. Nos procedimentos de análise foram selecionados os perfis de Instagram que utilizam o termo “antifeminismo”


    em suas nomenclaturas nos perfis ou como hashtags para impulsionar suas publicações, também foi analisado o número de seguidores na plataforma, desse modo os perfis contavam com mais de mil seguidores acompanhando suas publicações.


  4. RESULTADOS PARCIAIS


    O surgimento de opositores a movimentos sociais é algo natural, afinal, em uma sociedade democrática, todos os indivíduos usufruem da sua liberdade de expressão e do seu direito de escolha ideológica. No entanto, faz-se necessário que esses grupos assumam responsabilidades sociais no que se refere à disseminação informacional nas redes sociais. França (2018) afirma que “foi possível observar que os discursos antifeministas no espaço virtual se baseavam em um objetivo: deslegitimar as conquistas feministas (…)”.

    Atualmente, perfis pessoais e de figuras públicas, como o da fundadora do “clube antifeminista” e atual Deputada Estadual de Santa Catarina, Ana Campagnolo (Figura 1), trazem argumentos para incentivar a abdicação do feminismo. Frases como “o movimento mais nefasto do século XXI” e “o feminismo e a ideologia de gênero vêm tentando desconstruir a masculinidade tradicional” propaga uma ideia deturpada do movimento feminista. Com o mesmo intuito, em uma recente publicação, a jornalista Mariana Brito afirmou que, “o feminismo é uma das maiores ameaças dos últimos tempos à nossa civilização”.


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    Figura 1 - Antifeminismo em ascensão



    Fonte: Instagram - @anacampagnolo


    Deste modo, analisaremos algumas publicações de perfis antifeministas. A primeira postagem observada Análogo a esses discursos foi extraída do perfil chamado “Contra o feminismo”, que conta atualmente possui com 16,6 mil seguidores, o objetivo dessa página é ressaltar a importância das mulheres se distanciarem do movimento. A publicação intitulada “O feminismo te ensina a odiar…” conta com 1.511 curtidas, 88 comentários, e é um repost de outro perfil antifeminista já banido da plataforma do Instagram. As imagens publicadas (Figura 2) foram realizadas no modo carrossel com sete imagens, entre elas, três foram selecionadas para a análise.

    Figura 2 - O feminismo te ensina a odiar…

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    Fonte: Instagram - @contraofeminismo


    Compreende-se que as fundamentações religiosas são, em muitos casos, o ponto chave de discordância para que mulheres se voltem contra as concepções feministas. Segundo Hooks (2018) “o feminismo ajudou a transformar os pensamentos religiosos patriarcais de maneira que mais mulheres possam encontrar uma conexão com o sagrado e se comprometer com a vida espiritual”.

    De fato, o conservadorismo propagado no contexto político e as rígidas diretrizes religiosas empurram mais pessoas para o movimento antifeminista, no entanto, o não compromisso com a verdade e a propagação de informações distorcidas por esse grupo, propicia o


    surgimento em massa de usuários alvos da desinformação disseminada por esses perfis. Hooks (2018), conclui que as reações antifeministas se solidificaram ao expor uma ameaça que o patriarcado oferece ao bem- estar das mulheres e dos homens. “Se o movimento feminista não tivesse oferecido um verdadeiro relato dos perigos de perpetuar o sexismo e a dominação masculina, teria falhado”. Os debates sobre as temáticas relacionadas a gênero foram e continuam sendo de extrema importância para a desmistificação de uma consciência social patriarcal e da desigualdade.


  5. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Considera-se relevante o aprofundamento e elaboração de pesquisas e estudos teóricos que tratam desta temática em prol da promoção da reflexão social acerca das redes sociais, buscando promover atitudes sobre as competências informacionais requeridas para a garantia da convivência social, tolerância e respeito. A desinformação só poderá ser combatida com a utilização e busca de informação qualificada, e para tanto é preciso ir além do incentivo à busca por conteúdos em fontes apropriadas e confiáveis. Trata-se da emergência do fomento ao processo formativo de indivíduos autônomos frente aos desafios da Era Digital.


REFERÊNCIAS


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competência em informação e sua avaliação sob a ótica da mediação da informação: reflexões e aproximações teóricas. Informação & Informação, Londrina, v. 19, n. 2, p. 60-77, out. 2014. Disponível em: https://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/view/19995. Acesso em: 09 nov. 2021.


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CONTRA O FEMINISMO. O feminismo te ensina a odiar. 25 maio 2021. Espírito Santo. Instagram: @contraofeminismo. Disponível em: https://www.instagram.com/p/CPT43khtROx/. Acesso em: 02 out. 2021.


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    GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Editora Atlas SA, 2008.


    HOOKS, B. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras.

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LANGNER, A.; ZULIANI, C. S.; MENDONÇA, F. O Movimento Feminista

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ROMEIRO, N. L. Vamos fazer um escândalo: a trajetória da desnaturalização da violência contra a mulher e a folksonomia como ativismo em oposição a violência sexual no Brasil. 2019. Disponível em: shorturl.at/gnGUX. Acesso em: 01 out. 2021.