Tecnologia assistiva e formação do bibliotecário (a): um estudo piloto


Assistive technology and library training: a pilot study


Tecnología asistencial y formación en bibliotecas: un estudio piloto


Cenidalva Miranda de Souza Teixeira

Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

Brasil


Raimunda Ramos Marinho

Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

Brasil


Licença:



Autor para correspondência: Raimunda Ramos Marinho Email: rr.marinho@ufma.br

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6034-3449


Como citar:

TEIXEIRA, Cenidalva Miranda de Souza; MARINHO, Raimunda Ramos. Tecnologia assistiva e formação do bibliotecário (a): um estudo piloto.

REBECIN, São Paulo, v. 9, número especial, p. 1-11, 2022. DOI: 10.24208/rebecin.v9inúmero especial.326



RESUMO


Este texto consiste em apresentar uma investigação sobre a presença da Tecnologia Assistiva (TA) e as possibilidades de inclusão social no percurso formativo dos bibliotecários e bibliotecárias. O objetivo é identificar a presença e a reflexão sobre TA no currículo do curso de graduação em Biblioteconomia. A metodologia adotada corresponde à pesquisa exploratória pautada nos procedimentos técnicos da pesquisa bibliográfica e documental. O universo da pesquisa é o curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão e parte-se da análise do seu projeto político pedagógico e da estrutura curricular. É evidente a marca da TA na estrutura curricular e no funcionamento desse curso. Conclui-se que, no âmbito da Biblioteconomia, já se contemplam iniciativas significativas, mas ainda é preciso que os cursos avancem e busquem medidas de enfrentamento para essa problemática.


Palavras-Chave: Biblioteconomia-ensino; Acessibilidade; Inclusão social; Tecnologia Assistiva.


ABSTRACT


This text is to present research on the presence of Assistive Technology (AT) and the possibilities of social inclusion in the training path of librarians. The objective is to identify the presence and reflection on AT in the curriculum of the Undergraduate Course in Library Science. The methodology adopted corresponds to exploratory research based on technical procedures of bibliographic and documentary research. The research universe is the Librarianship course at the Federal University of Maranhão, based on the analysis of a pedagogical political project and its curricular structure. TA's mark on the curricular structure and functioning of this course is evident. It is concluded that, in the scope of Librarianship, significant initiatives are already contemplated, however, the Courses need to move forward and seek coping measures for this problem.


Keywords: Library Science Teaching; Accessibility; Social Inclusion; Assistive Technology.


RESUMEN



Este texto pretende presentar una investigación sobre la presencia de las Tecnologías de Apoyo (TA) y las posibilidades de inclusión social en el itinerario formativo de los bibliotecarios. El objetivo es identificar la presencia y la reflexión sobre la TA en el currículo del Curso de Pregrado en Bibliotecología. La metodología adoptada corresponde a una investigación exploratoria basada en procedimientos técnicos de investigación bibliográfica y documental. El universo de la investigación es el curso de Biblioteconomía de la Universidad Federal de Maranhão, a partir del análisis de un proyecto político pedagógico y de su estructura curricular. Es evidente la huella del AT en la estructura curricular y en el funcionamiento de este curso. Se concluye que, en el ámbito de la Biblioteconomía, ya se contemplan iniciativas significativas, sin embargo, los Cursos necesitan avanzar y buscar medidas de afrontamiento para este problema.


Palabras clave: Enseñanza de la Biblioteconomía; Accesibilidad; Inclusión Social; Tecnología Asistencial.


  1. INTRODUÇÃO


    As discussões a respeito da Tecnologia Assistiva (TA) são de suma importância para a desconstrução da ideia de deficiência como sinônimo de incapacidade. As pessoas com deficiência podem até não desempenhar algumas tarefas em função de barreiras da ambiência e de estruturas organizacionais na qual estão inseridas, mas não por razões humanas.

    Desta feita, pesquisas nesse campo contribuem para o desenvolvimento de novos recursos tecnológicos destinados à acessibilidade, uma vez que a tecnologia consiste na aplicação dos conhecimentos científicos produzidos.

    De modo positivo, essas discussões despertam uma maior consciência social nas pessoas. Teixeira, Ferreira e Vetter (2020)



    enfatizam que a disseminação de pesquisas científicas se torna relevante por proporcionarem um espaço de reflexão sobre a sociabilidade e usabilidade desse recurso no processo de mediação pedagógica e aprendizagem, cuja prerrogativa é a busca de uma realidade educacional e socialmente construída para a formação do cidadão. Na visão das autoras Diniz, Almeida e Furtado (2016, p. 1), até pouco tempo, “No Brasil, a preocupação e discussão sobre inclusão e acessibilidade tem-se intensificado, gerando legislação e uma produção, ainda incipiente, de estudos em nível de graduação e pós-graduação em todo o país”.

    No que diz respeito à Tecnologia Assistiva, apresentada como conteúdos explorados diretamente em disciplinas, ou mesmo de modo transversal nas estruturas curriculares dos cursos de graduação, principalmente nos bacharelados das Instituições de Ensino Superior, essa temática ainda é vista com pouca frequência. Os cursos de Biblioteconomia também seguem essa condição. Naturalmente, essa discussão plasma sobre os saberes provenientes dos currículos para o estabelecimento da competência informacional do bibliotecário e na determinação do perfil profissional para atuar com novas competências no mercado de trabalho, adequando-se às demandas sociais.

    De fato, é notório que o mercado de trabalho aponta tendências para a absorção de profissionais bibliotecários com múltiplas competências para a gestão e atuação em ambientes informacionais diferentes, bem como para a melhor compreensão das capacidades socioinformacionais, ou, melhor dizendo, que se voltem para a responsabilidade social, a pluralidade e a diversidade de seus usuários. Por esse motivo, o interesse deste estudo é perceber se as Tecnologias Assistivas e seus desdobramentos estão presentes, de algum modo, na estrutura curricular



    dos cursos de Graduação em Biblioteconomia e como verificação piloto no curso vinculado à Universidade Federal do Maranhão.

    Certamente, análises dessa natureza podem embutir impacto na (re) estruturação curricular dos cursos de Graduação em Biblioteconomia, além de ganhos qualitativos na formação profissional.

    Portanto, como objetivo geral, propomos investigar a presença da Tecnologia Assistiva, de algum modo, na estrutura curricular dos cursos de Graduação, principalmente no apoio informacional e pedagógico do processo de formação de bibliotecários(as). Quanto aos objetivos específicos, ficam estabelecidos os seguintes: a) identificar os principais conceitos relacionados à acessibilidade e à tecnologia assistiva; b) verificar a existência dos termos acessibilidade e tecnologia assistiva no currículo do curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão.


  2. REVISÃO DE LITERATURA


    As primeiras discussões sobre acessibilidade datam da década de 1970, após a criação da Lei de Reabilitação (Rehabilitation Act) dos Estados Unidos, sendo o auge de tais discussões a década de 1980, com a criação da ADA (Americans with Disabilities Act). Outro fato importante para a área foi a publicação, em 1993, pela Organização das Nações Unidas (ONU), das Normas sobre a Igualdade de Oportunidades para as Pessoas com Deficiência (FROTA, 2013).

    No Brasil, as discussões acadêmicas referentes ao tema acessibilidade remontam à década de 1990 (WAGNER et al., 2010), mas alguns debates já eram realizados na década anterior. Em 1985, a



    Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) publicou a NBR 9050, estabelecendo critérios para construção e adaptação de edificações, mobiliários, espaços e equipamentos urbanos. Outro marco normativo foi o Decreto-Lei nº 6.494/2009, que promulgou a Convenção Nacional sobre

    o Direito das Pessoas com Deficiência.

    A acessibilidade é uma área de estudo em crescimento no país, mas existe ainda um longo caminho a ser percorrido para que a mesma se consolide e efetive a desconstrução dos estereótipos arraigados no imaginário popular, como, por exemplo, a visão na qual a acessibilidade consiste no acesso físico de cadeirantes possibilitado pelas rampas. Existem outros fatores que envolvem a acessibilidade, o que pode ser percebido no conceito apresentado na legislação brasileira, que é compreendida como:

    [...] possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida (BRASIL, 2000, p. 2).


    Na educação, o uso da TA auxilia o processo de ensino- aprendizagem, podendo ser vista como uma ferramenta na mediação pedagógica para a aprendizagem do aluno com deficiência. Nesse aspecto, Bersch (2006, p. 92) destaca que “[...] a aplicação da Tecnologia Assistiva na educação vai além de simplesmente auxiliar o aluno a fazer tarefas pretendidas. Nela, encontramos meios de o aluno ser e atuar de forma construtiva no seu processo de desenvolvimento”.

    Essas pesquisas são relevantes por justificarem a importância da Tecnologia Assistiva e por caracterizarem a utilização desta no dia a dia



    das pessoas com deficiência, reforçando os argumentos relacionados ao cumprimento dos direitos desses cidadãos (VARELA; OLIVER, 2012). Ademais, estudos nessa área contribuem sobremaneira para o combate de práticas discriminatórias através da conscientização social.


  3. METODOLOGIA


    Trata-se de um estudo piloto que corresponde a uma proposta mais ampla de pesquisa exploratória, com procedimentos técnicos pautados na pesquisa bibliográfica e documental, cujas discussões epistemológicas e metodológicas estão baseadas em dados empírico-analíticos levantados em documentos que registram o Projeto Político Pedagógico e o currículo vigente no curso de Graduação em Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão. Os dados e as informações são vistos à luz da análise de conteúdo, através dos termos localizador- acessibilidade, tecnologias acessíveis, usuário com necessidades especiais, educação inclusiva. Esses termos podem deixar marcas no curso em tela. Desse modo, o estudo conjuga análises quantitativa e qualitativa.


  4. RESULTADOS PARCIAIS


    Preliminarmente, podemos evidenciar os seguintes resultados parciais:

    1. Os cursos de graduação em Biblioteconomia estão no bojo das políticas da Educação Superior e podem contribuir para o atendimento das demandas sociais, culturais e educacionais do país através da formação de profissionais para o ingresso



      imediato no mercado de trabalho, cuja marca expressiva é da visão social e humanística (BRASIL, 1962). Todavia, na atualidade, tem sido marcante a ênfase nos processos tecnológicos, produção de bens e serviços, e capacidades empreendedoras;

    2. Na matriz curricular vigente do curso de Biblioteconomia da UFMA, entre as disciplinas obrigatórias não figura nenhuma que trate especificamente de Tecnologia Assistiva, ou termos assemelhados (acessibilidade, tecnologias acessíveis, usuário com necessidades especial, educação inclusiva). Contudo, fica evidente pelos relatos de experiências e vivências didático- pedagógicas que essa temática figura certamente nos programas e desenvolvimento das disciplinas, a exemplo de Fontes de Informação, Planejamento, Leitura e Formação de Leitores, Estudos de Usuários, Automação de Unidades de Informação e muitas outras. Desse modo, podemos afirmar que esses conteúdos são transversais ao currículo.

    3. Outra perspectiva de presença da TA no currículo vigente é através do leque de disciplinas optativas, como Ética na Informação, Políticas de Informação para Portadores de Necessidades Especiais. Entretanto, ainda não possível é ofertá-las em virtude da carga horária total do curso em tela;

    4. Outrossim, é perceptível no cotidiano dos professores o uso de recursos da tecnologia assistiva no decorrer de suas aulas, exatamente para atender às demandas dos alunos do curso. Além disso, um grupo de professores vinculados ao curso de



      Biblioteconomia desenvolvem ações extensivas e bem representativas sobre acessibilidade e TA no âmbito da UFMA;

    5. De modo enfático, na reforma curricular prestes a entrar em vigor (no ano de 2022), essa temática está sendo incluída no projeto pedagógico em perspectiva obrigatória.


  5. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Durante a fase de pesquisa bibliográfica, identificamos o conceito de Tecnologia Assistiva como uma área de conhecimento interdisciplinar e indispensável à construção de uma sociedade inclusiva, cuja participação efetiva de todos os cidadãos é possibilitada pela equiparação de oportunidades.

Assim, percebemos que a aplicabilidade da Tecnologia Assistiva requer a análise de necessidades dos/as usuários e sujeitos envolvidos nos processos de interação social, tornando-se imprescindível na formação profissional dos/as bibliotecários/as para o conhecimento de metodologias, estratégias e aplicação de recursos tecnológicos que auxiliem e facilitem o processo das interações sociais e informacionais. Para a área da Biblioteconomia, especificamente, este estudo contribui para o fortalecimento do lado humanístico e social da área, favorecendo a busca de conhecimentos e reflexões quanto à importância de sua capacitação, a fim de compreender as facilidades que a Tecnologia Assistiva oferece aos seus usuários.

Nesse sentido, concordamos com as iniciativas e desejamos que todos os cursos de Biblioteconomia possam formalizar em matrizes curriculares, com perspectiva obrigatória, conteúdos que alcancem



questões que estejam ligadas à tecnologia assistiva, acessibilidade, tecnologias acessíveis, necessidades especiais, educação inclusiva, além de outras que assegurem os direitos dos cidadãos.


REFERÊNCIAS


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VARELA, R. C. B.; OLIVER, F. C. A utilização de Tecnologia Assistiva na vida cotidiana de crianças com deficiência. 2012. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/csc/2013.v18n6/1773- 1784/pt/. Acesso em: 25 set. 2020.


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