Ensino remoto emergencial sob a perspectiva discente


Emergency remote teaching from the student perspective


La teleenseñanza de emergencia desde la perspectiva del alumno


Raimunda Ramos Marinho

Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

Brasil


Adenilze Dias dos Santos

Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

Brasil


Licença:



Autor para correspondência: Raimunda Ramos Marinho Email: rr.marinho@ufma.br

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6034-3449


Como citar:


MARINHO, Raimunda Ramos; SANTOS, Adenilze Dias dos. Ensino remoto emergencial sob a perspectiva discente. REBECIN, São Paulo,

v. 9, número especial, p. 1-11, 2022. DOI: 10.24208/rebecin.v9inúmero especial.321



RESUMO


O texto discorre sobre como a tecnologia faz parte do processo de ensino sob o ponto de vista dos alunos, de modo a estabelecer ressignificações do mundo digital. Figuram como objetivos específicos conhecer os dispositivos, plataformas e estratégias tecnológicas que os alunos da educação superior utilizam no processo ensino aprendizagem, bom como discutir implicações e os desdobramentos de aprendizagem mediada por tecnologias móveis produz nos alunos vinculados aos cursos de graduação. Procedimentos metodológicos se caracterizam como estudo exploratório, cujo levantamento junto aos alunos. Na coleta de dados foi utilizado o questionário online, desenvolvido na plataforma Google Forms com questões de múltipla escolha. Conclui-se, pela necessidade do estabelecimento de uma política, pela universidade, de aprimoramento de conhecimentos técnicos e teóricos não recebidos devido ao formato de ensino remoto adotado.


Palavras-Chave: Ensino remoto; Pandemia – ensino; Biblioteconomia; Tecnologia Digital.


ABSTRACT


The text discusses how technology is part of the teaching process from the students’ point of view, in order to establish new meanings in the digital world. The specific objectives are to know the devices, platforms and technological strategies that higher education students use in the teaching-learning process, as well as to discuss the implications and developments of learning mediated by mobile technologies in students linked to undergraduate courses. Methodological procedures are characterized as an exploratory study, whose survey with students. For data collection, an online questionnaire was used, developed on the Google Forms platform with multiple choice questions. It is concluded that there is a need to establish a policy, by the university, to improve technical and theoretical knowledge not received due to the adopted remote teaching format.


Keywords: Remote teaching; Pandemic – teaching; Librarianship; Digital technology.



RESUMEN


El texto aborda cómo la tecnología forma parte del proceso de enseñanza desde el punto de vista de los estudiantes, para establecer re- significaciones del mundo digital. Figuraram como objetivos específicos conocer los dispositivos, plataformas y estrategias tecnológicas que los estudiantes de educación superior utilizan en el proceso de enseñanza- aprendizaje, así como discutir las implicaciones y la evolución del aprendizaje mediado por tecnologías móviles produce en los estudiantes vinculados a los cursos de pregrado. Los procedimientos metodológicos se caracterizan por ser un estudio exploratorio, cuya encuesta con los estudiantes. En la recogida de datos se utilizó el cuestionario online, desarrollado en la plataforma Google Forms con preguntas de opción múltiple. Se concluye, por la necesidad del establecimiento de una política, por parte de la universidad, de aprimoramiento de conocimientos técnicos y teóricos no recibidos debido al formato de enseñanza remota adotado.


Palabras clave: Enseñanza a distancia; Pandemia - enseñanza; Biblioteconomía; Tecnología digital.


  1. INTRODUÇÃO


    Com as aulas totalmente suspensas por mais de cem dias devido à Pandemia de Covid-19, as Instituições Públicas de Ensino Superior (IFES) tiveram muitas dificuldades em se estruturarem para dar continuidade às suas atividades, principalmente do ensino de graduação. No que foi possível, para evitar a interrupção por tempo indeterminado, entre as dinâmicas estabelecidas em médio prazo para garantir o funcionamento, foi criação através da PORTARIA Nº 343, DE 17 DE MARÇO DE 2020 (BRASIL, 2020) “Dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus - COVID-19” passando essa modalidade ser designada como Ensino Remoto Emergencial (ERE).



    Essa modalidade, então, se personificou como a estratégia oficial e institucionalizada pelas IFES como forma de enfrentamento à pandemia, mantendo o distanciamento social, e ao mesmo tempo com a pretensão de evitar prejuízos educacionais à comunidade acadêmica em termos de conteúdo, carga horária, e atividades didático pedagógicas dos cursos em andamento. Entretanto, esse discurso governamental mobiliza outros significados ao defender que “O processo de adoção de práticas inovadoras começa por conhecer o potencial do uso de tecnologia”. E, assim, produz uma carga política-ideológica na promoção da ‘inovação educacional’ através da aprendizagem móvel, refletindo no ensino a função utilitária, superficial e tênue, ou seja, a ilusão de aprendizagem.

    Desse modo, pensar sobre ensino e aprendizagem no/para o mundo das tecnologias digitais móveis sem fio (TMSF) não é nada simples. A complexidade tecnológica, cultural, educacional e social inerente a este novo modo operandis de ensinar e aprender, exige-nos refletir sobre práticas e vivências tão atuais quanto novas. Portanto, parte- se do pressuposto destas transformações como um novo universal, pois incorpora todos os conteúdos da produção humana conectando as cargas simbólicas de compreensão de mundo, incluindo modos mais complexos de aprendizagens, independentes de estruturas tecnológicas, tempo e espaço.

    Diante desse contexto, é de extrema relevância compreender de que forma a tecnologia deve fazer parte do processo de ensino e das práticas pedagógicas, saber onde estamos e por onde devemos seguir. Nesta sequência, é princípio básico identificar fraquezas e ameaças que se colocam neste contexto, justificando assim o objetivo central desta produção textual, que é diagnosticar o uso da tecnologia e a exclusão



    digital entre alunos de cursos de graduação, de modo a estabelecer ressignificações do processo de ensino e questões sociais no mundo digital. Por conseguinte, os objetivos específicos se apresentam como: a) conhecer os dispositivos, plataformas e estratégias tecnológicas que os alunos da educação superior utilizam no processo ensino aprendizagem;

    b) discutir implicações e os desdobramentos de aprendizagem mediada por tecnologias móveis produz nos alunos vinculados aos cursos de graduação.

    O estudo contribui especialmente com docentes e discentes na determinação de um perfil de uso das tecnologias e suas possibilidades, e até mesmo em âmbito nacional subsidiando o estabelecimento de políticas públicas de corte educacional.


  2. REVISÃO DE LITERATURA


    A construção teórica deste trabalho se fundamenta nos conceitos que orientam as discussões sobre ambientes e modelos pedagógicos, e as tecnologias de informação e comunicação que possibilitam processos de aprendizagem em qualquer tempo e lugar, dentre estas aquelas agregam dispositivos móveis sem fio, computação móvel, e plataformas de ensino. Neste sentido, adota-se uma perspectiva de desenvolver um diálogo problematizador, mas não necessariamente de contestação das lógicas emergentes na sociedade da informação e da aprendizagem.

    Nesse sentido, se toma como eixos analíticos aqueles apresentam “que as tecnologias atuais, a escola pode transformar-se em um conjunto de espaços ricos de aprendizagens significativas, presenciais e digitais, que motivem os alunos a aprender ativamente, a pesquisar o tempo todo,



    a serem proativos, a saber tomar iniciativas, interagir” (MORAN, 2013).

    Mais do que isso, a reverberação da ideia de que

    os dispositivos móveis têm potencial para oferecer diferentes níveis de envolvimento e podem ensejar estratégias diferenciadas para oferecer novas oportunidades de interação dos estudantes entre si e com o professor (BARCELOS; TAROUCO; BERCHET, 2009).


    Também, em outra perspectiva, há a visão daqueles que relacionam as tecnologias à reprodução de explicações, utilitarismo e treinamento destacado por Biesta (2016) quando citado por Lopes e Loureiro (2021) diz que

    [...] a disponibilidade instantânea produzida pelo uso de tecnologias mobile conectadas à internet dá a impressão de que a escola tem se tornado supérflua diante de tudo o que pode ser aprendido ‘online’ ao mesmo chamando atenção da tecnologia com extensão de corpos dos nativos digitais.


    Essas discussões, mobiliza-nos a pensar as implicações e os desdobramentos das ideias, de que momentos trazem um enaltecimento das tecnologias na educação, e outros que destacam enunciados e práticas que produzem efeitos nas subjetividades e estabelecendo regras e sujeições aos indivíduos envoltos no processo de ensino- aprendizagem. Nesta direção, comunga-se com Lopes e Loureiro (2021) quando exploram a perspectiva de como problematizar os usos das tecnologias pelos estudantes como recursos para a aprendizagem, bem como os discursos que circulam e se constituem em produtores de verdades sobre tais usos.


  3. METODOLOGIA



    O estudo exploratório faz parte da pesquisa de levantamento desenvolvida junto aos alunos do curso de graduação, e matriculados nas disciplinas Métodos e Técnicas da Pesquisa Bibliográfica, vinculada e ofertada pelo Departamento de Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Os participantes espontâneos da pesquisa foram 32 (trinta e dois) alunos, de total de 69 (sessenta e nove) matriculados. Na coleta de dados foi utilizado o questionário online, desenvolvido na plataforma Google Forms com questões de múltipla escolha. A divulgação ocorreu por meio do Sistema de Gestão Acadêmica - SIGAA e através do WhatsApp. Ressalte-se, que embora utilizando questões fechadas, os dados trazem conotações as quais possibilitam estabelecer conexões e relações.


  4. RESULTADOS PARCIAIS


    O propósito do estudo foi diagnosticar o uso da tecnologia e a exclusão digital entre alunos de cursos de graduação. Desta feita, se indagou sobre os mecanismos digitais e as possibilidades oferecidas, para que os sujeitos pudessem participar de modo efetivo das aulas oferecidas durante o primeiro semestre do ano de 2021. A partir de então se pretende estabelecer ressignificações do processo de ensino e questões sociais no mundo digital.

    Daí, levando a efeito de que o contexto é o Ensino Remoto Emergencial (ERE) totalmente em situação de distanciamento social, a questão chave foi verificar a aceitação e o acesso à internet em suas residências, uma vez que a proposta da tecnologia sem fio, aqui a rede mundial de computadores – Internet é permitir que que a educação de



    qualidade seja oferecida em qualquer região do país, superando barreiras sociais e geográficas. As respostas satisfatórias em quase unanimidade dos respondestes, que respectivamente 75% e 96, 9% aceitam a modalidade ERE e afirmaram dispor de internet. Entretanto, não foi questionada diretamente a qualidade de velocidade e capacidade da rede.

    Mas, a partir das opiniões sobre o ambiente ou canal utilizado e a visualização de vídeos e imagens, bem como sobre a maior dificuldade de estudar na modalidade remota, é possível se ter uma ideia sobre a qualidade no acesso às salas de aula e uso dos materiais didáticos, o que certamente são fatores que interferem nos processos de aprendizagem.

    Considerando o potencial da tecnologia, os dados não são tão negativos, posto que 93, 8% mencionam boa recepção. Quanto a maior dificuldade apontada entre as opções “ concentração, ler na tela do computador ou celular, manuseio com o recurso tecnológico, acesso à internet estável, possuir computador pessoal” foi destacado com ênfase por 62,5% dos respondentes “dificuldade de concentração”, seguido de não possuírem computador e dificuldades de ler na tela do celular, o que sugere problemas socioeconômicos e competência tecnológica.

    Sobre concentração durante a participação das aulas é necessária melhor apuração desta situação. Contudo, pode-se dizer que estes sujeitos podem está com uma desatenção ao se distraírem com facilidade do objeto de sua atenção (aula), além de que nem todos possuem um espaço físico em suas residências reservado para suas atividades de estudo e são submetidos às intempéries do meio ambiente. Outro aspecto, será o despertar para o compromisso e responsabilidade com sua formação profissional.



    Outros dois aspectos verificados foram o apoio institucional à inclusão digital (chip e tablete e normativas institucionais), e as estratégias/recursos bibliográficos para realizar pesquisas e trabalhos acadêmicos. Ao que tange ao primeiro aspecto, a UFMA realizou ações através de editais, cursos e treinamento visando favorecer o processo de inclusão digital no âmbito acadêmico da instituição, entretanto entre os respondentes, 25% sequer sabem dos trâmites necessários para participação do processo, enquanto 34,4% não foram contemplados com a ação de inclusão digital. Sobre as estratégias de estudo, verificou-se que mais da metade dos respondentes dedicam-se entre 1 a 2 horas diárias aos estudos, o que certamente tem implicações em seus rendimentos acadêmicos.

    Na modalidade ERE, há o aumento do uso de aulas gravadas e vídeos aliados à queda e falta de conectividade, assim distanciando os alunos da presença e do diálogo com o professor. Neste sentido, acredita- se na imprescindibilidade das estratégias e recursos bibliográficos para agregar conhecimentos sólidos, para garantir a qualidade da aprendizagem através do aprofundamento dos conteúdos. Nesta direção, ainda que o sistema de bibliotecas estivesse funcionando, houve unanimidade sobre uso das fontes eletrônicas para elaboração de seus trabalhos de pesquisa.


  5. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Entende-se a partir das interações docente e discente, que mesmo com todos os esforços para se adaptar a disciplina e os conteúdos no



formato remoto (ERE), este não permite a transferência eficaz de conhecimentos que devem ser passados ao universitário. Também, se almeja o estabelecimento de uma política, pela universidade, de aprimoramento de conhecimentos técnicos e teóricos não recebidos devido ao formato de ensino remoto adotado.


REFERÊNCIAS


BARCELOS, R.; TAROUCO, L.; BERCHT, M. O uso de mobile learning no ensino de algoritmos. Novas Tecnologias na Educação, v. 7, n. 2,

p. 1-11, dezembro, 2009. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/renote/article/view/13573/0. Acesso em: 10 out. 2021.


BIESTA, G. J. J. Good Education in an age of measurement: Ethics, Politics, Democracy. New York: Routledge, 2016. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_nlinks&ref=4156937&pid= S0101-4838202000020001600004&lng=pt. Acesso em: 10 out. 2021.


BRASIL. Ministério da Educação. Gabinete do Ministro. Portaria nº 343, de 17 de março de 2020. Dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus - COVID-19. Diário Oficial da União, Brasília, DF, seção 1, p. 39. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-343-de-17-de-marco-de- 2020-248564376. Acesso em: 11 out. 2021.


BRASIL. RESOLUÇÃO N° 2.078-CONSEPE, 17 de julho de 2020.

Regulamenta o Ensino Emergencial Remoto e/ou Híbrido na UFMA durante o período de pandemia do novo Coronavírus (SARS-COV- 2/COVID-19). UFMA: São Luís, 2020. Disponível em: http://www.ufma.br/portalUFMA/arquivo/0Y4SKln1B1KZXFS.pdf. Acesso em: 15 out. 2021.


LOUREIRO, C. B.; LOPES, M. C. Aprendizagem e tecnologias móveis sem fio: conexões, problematizações e possibilidades. Educação, Porto Alegre, v. 44, n. 1, p. 1 -13, jan./abr. 2021. Disponível em:



https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/view/32274

. Acesso em: 12 out. 2021.


MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. A. Novas tecnologias

e mediação pedagógica. 21. ed. Campinas: Papirus, 2013.