Trilhas e leitura das ações culturais da ONG Olha o Chico – Piaçabuçu/AL

 

Trails and reading of cultural actions of the NGO Olha o Chico - Piaçabuçu /AL

 

Senderos y lectura de las acciones culturales de la ONG Olha o Chico - Piaçabuçu/AL

 

 

Almiraci Dantas dos Santos

Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

Brasil

 

Maria de Lourdes Lima

Universidade Federal de Alagoas(UFAL)

Brasil

 

 

Submetido em: 26/04/2021

Aceito em: 14/06/2021

Publicado em: 28/10/2021

 

Licença:

 

Autor para correspondência: Almiraci Dantas dos Santos

Email: dantasmirabibliotecaria@gmail.com

ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6057-7045

 

 

Como citar este artigo:

 

SANTOS, Almiraci Dantas; LIMA, Maria de Lourdes. Trilhas e leitura das ações culturais da ONG Olha o Chico – Piaçabuçu/AL. REBECIN, São Paulo, v. 8, edição especial, p. 1-14, 2021. DOI: 

10.24208/rebecin.v8i.280 

 

RESUMO

 

Este artigo apresenta uma leitura das ações da ONG Olha o Chico, sob a perspectiva das atividades culturais desenvolvidas na cidade de Piaçabuçu. Assim, o nosso problema de pesquisa busca indagar em que medida o patrimônio imaterial em combinação com a informação se tornam instrumentos de uma ação cultural no universo social da cidade ribeirinha de Piaçabuçu/Alagoas? Dessa forma, visamos como objetivo geral estudar o patrimônio imaterial como dispositivo, no sentido de rever os aportes conceituais e a observação empírica como indicadores das relações entre informação e ação cultural na leitura das ações culturais da ONG Olha o Chico. Em nossas reflexões, este estudo aponta caminhos trilhados na pesquisa, na qual partimos de análises centradas em dados obtidos através dos mestres da cultura popular, o que nos possibilitou delinear o perfil e/ou função dos agentes culturais/dirigentes da ONG, suas ações culturais, bem como a questão do patrimônio imaterial relacionado à informação.

 

Palavras-Chave: Patrimônio imaterial - informação 1; Ação cultural 2; ONG Olha o Chico 3.

 

ABSTRACT

 

This article presents a reading of the actions of the NGO Olha o Chico, from the perspective of the cultural activities developed in the city of Piaçabuçu. So, the research problem seeks to ask to what extent intangible heritage in combination with information become instruments of cultural action in the social universe of the riverside city of Piaçabuçu / Alagoas? Thus, it aims as a general objective, to study intangible heritage as a device, in order to review the conceptual contributions and empirical observation as indicators of the relationships between information and cultural action in the reading of the cultural actions of the NGO Olha o Chico. Thus, this article points out paths taken in the research, through the analysis that consisted of data obtained through the masters of popular culture, the profile and / or function of the cultural agents / leaders of the NGO, their cultural actions, as well as the issue of heritage immaterial related to information.

Key words: Intangible heritage - information 1; Cultural action 2; NGO Olha o Chico 3.

 

RESUMEN

 

Este artículo presenta una lectura de las acciones de la ONG Olha o Chico, desde la perspectiva de las actividades culturales desarrolladas en la ciudad de Piaçabuçu. Así, nuestro problema de investigación pretende indagar hasta qué punto el patrimonio inmaterial en combinación con la información se convierten en instrumentos de una acción cultural en el universo social de la ciudad ribereña de Piaçabuçu/Alagoas. Así, nos proponemos estudiar el patrimonio inmaterial como dispositivo, para revisar las aportaciones conceptuales y la observación empírica como indicadores de las relaciones entre información y acción cultural en la lectura de las acciones culturales de la ONG Olha o Chico. En nuestras reflexiones, este estudio señala caminos recorridos en la investigación, en la que partimos de análisis centrados en los datos obtenidos a través de los maestros de la cultura popular, que nos permitieron perfilar el perfil y/o la función de los agentes/gestores culturales de la ONG, sus acciones culturales, así como la cuestión del patrimonio inmaterial relacionado con la información.

 

Palabras clave: Patrimonio inmaterial - información 1; Acción cultural 2; ONG Olha o Chico 3.

 

 1 INTRODUÇÃO

 

Este trabalho está centrado numa leitura a partir de um olhar acerca das ações da ONG Olha o Chico[1], sob a perspectiva das atividades culturais desenvolvidas na cidade de Piaçabuçu, localizada no extremo sul de Alagoas. Esta cidade foi escolhida para a pesquisa, em razão da presença dos mestres de guerreiro, pastoril, reisado, artesãos, rezadores, contadores de histórias e pifeiros. Este contingente compõe o patrimônio imaterial da cidade e passa a ser repositório de um saber secular repassado a sucessivas gerações, as quais são responsáveis por transportar consigo a memória histórico-social e cultural da cidade.  

Logo, o nosso problema de pesquisa busca indagar em que medida o patrimônio imaterial em combinação com a informação se tornam instrumentos de uma ação cultural no universo social da cidade ribeirinha de Piaçabuçu/Alagoas? Isso posto, o referido problema nos leva, antes de tudo, aos seguintes passos: a) identificar as manifestações da cultura imaterial dentre as atividades da ONG Olha o Chico, que são representativas do patrimônio imaterial de Piaçabuçu/AL; b) descrever a relação entre informação e patrimônio imaterial na esfera da Ciência da Informação. Desse modo, de posse dos objetivos específicos propostos, o nosso objetivo geral visa estudar o patrimônio imaterial como dispositivo, no sentido de rever os aportes conceituais e a observação empírica como indicadores das relações entre informação e ação cultural na leitura das ações culturais da ONG Olha o Chico.

Dessa forma, este artigo aponta caminhos trilhados na pesquisa[2] que tratou de uma aplicação metodológica. A análise consiste em dados obtidos através dos mestres da cultura popular de Piaçabuçu, analisando também o perfil e/ou função dos agentes culturais/dirigentes da ONG, suas ações culturais, bem como a questão do patrimônio imaterial relacionado à informação, com vistas à compreensão acerca do saber transmitido pela oralidade como base para a construção do conhecimento científico, o qual se faz necessário ao registro contínuo desse saber para que este não se dilua no continuum das relações de tempo e espaço.

 

2 OS CAMINHOS DA PESQUISA

 

O primeiro passo dessa caminhada consiste em uma pesquisa bibliográfica para obtenção de informação e conhecimento sobre o tema “patrimônio imaterial” e sua importância cultural como demanda de produção, armazenamento e difusão do conhecimento popular. O passo seguinte elege como campo de estudo a ONG Olha o Chico. Mais adiante verifica-se os movimentos para construir o caminho desta pesquisa, na qual se estabelece o tipo, o universo, os instrumentos de coleta de dados, com a finalidade de discuti-los e, por fim, dar início à interpretação e à análise dos dados coletados.

Logo, urge um aporte conceitual que nos devolva a capacidade de deslindar a pesquisa bibliográfica e a de campo, de modo a nos aproximarmos do uso da leitura, uma vez que, de acordo com a perspectiva de Roger Chartier (2011, pp. 19, 22, grifos nossos) a leitura emerge como “[...] uma prática cultural, portanto, mas que naturalmente é a de (quase) todos e para todos idêntica [...]. E nessa tentativa se imbricam dois tipos de representação o visível sobre o legível. ”

Quanto ao tipo de pesquisa, esta caracteriza-se como um estudo de caso instrumental e de natureza qualitativa. Já o universo da pesquisa refere-se a um conjunto de informações, objeto de um determinado estudo (GIL, 2009). Portanto, as investigações se pautaram pelo estudo de caso das ações culturais da ONG Olha o Chico. Essas ações foram objeto de uma leitura dirigida ao patrimônio imaterial da cidade, que foi identificado, por sua vez, através da pesquisa desenvolvida na ONG.

Trata-se de uma pesquisa que adotou uma abordagem qualitativa a partir da “entrevista estruturada” aplicada aos protagonistas identificados pela ONG como mestres da cultura popular, além da aplicação de “questionários” direcionados aos agentes culturais/dirigentes da ONG. O universo desta pesquisa compreendeu 4 (quatro) agentes culturais/dirigentes e 3 (três) mestres da cultura popular que participam diretamente das ações da ONG. Quanto à análise e à interpretação, não nos valemos apenas das técnicas aplicadas (questionário e entrevista), mas também de consultas aos documentos da ONG Olha o Chico (estatuto, histórico e fotografias).

A considerar os passos descritos foi possível construir uma trilha da leitura das atividades culturais desenvolvidas pela ONG, a saber: a leitura sobre os mestres da cultura popular; a leitura do perfil e função dos agentes culturais/dirigentes da ONG; a leitura das ações culturais na ONG Olha o Chico; e a leitura sobre o patrimônio cultural na visão da ONG Olha o Chico, as quais serão descritas, em seguida.

2.1 Uma leitura sobre os mestres da cultura popular

Os três mestres entrevistados são denominados de “griôs”, os quais estão numa faixa etária entre 70 a 80 anos aproximadamente. Eles, por sua vez, são todos analfabetos funcionais, nascidos em Piaçabuçu – Alagoas.

 – Mestra de reisado (Entrevista A):

Grinaura Rodrigues Santos, 73 anos (ver foto 1), conhecida na comunidade como “dona Grinaura”, é agricultora, pescadora e mestra de reisado no povoado

 

Foto 1 - Grinaura Rodrigues Santos.

Fonte: Arquivo Fotográfico - Espaço Memória

Retiro, em Piaçabuçu-AL. Conheceu o reisado e vem brincando desde criança. Eis o seu relato: “Conheci o reisado com um tio meu. Desenvolvi desde criança – de uns 7 (sete) anos de idade”.

Dona Grinaura participa de algumas atividades da ONG Olha o Chico, assim como do projeto “Ação Griô” e repassa seus conhecimentos para outras pessoas, conforme expressa em sua fala: “[...] para as figuras do reisado, já fui para a escola ensinar, mas só uma vez [...].” O depoimento aponta algumas dificuldades em manter o reisado atuante, tanto no que diz respeito ao interesse das pessoas em participar do folguedo, quanto em relação aos gastos financeiros para a compra das vestimentas.

O reisado é cultuado e nomeado de várias formas. Por exemplo: como “Reis”, “Folia de Reis” ou “Bois de Reis”, em cuja dança o boi alegórico sempre está presente. O reisado tem sua tradição na origem portuguesa, caracterizando-se como um ato popular profano-religioso que é formado por músicos, cantores e dançadores. O termo “dançador” também é utilizado por Théo Brandão (2003, p. 56) ao se referir ao reisado alagoano. Ao contrário de décadas passadas, hoje a cultura popular é menosprezada, muitas vezes, tanto por jovens quanto por adultos, o que acaba desmotivando os mestres do reisado, a exemplo de dona Grinaura.

Trecho de uma canção popular de domínio público colhida por dona Liu[3]: “Hoje aqui, eu não brinco mais porque as meninas mangam[4] [...]”. Partindo desse trecho notamos que os mestres da cultura popular se ressentem do desprezo sofrido por trazer a público a cultura/herança de seus antepassados, assim como dona Grinaura, mestra de reisado e dona Lourdes, artesã de boneco(a)s de pano.

 

Foto 2 - Maria de Lourdes Menezes

Fonte: Arilene de Castro/Arquivo Fotográfico: Espaço Memória Viva (2011).

 – Artesã (Entrevista B):

 

Maria de Lourdes Menezes[5], 75 anos (ver foto 2), conhecida por “dona Lourdes”, além dos afazeres domésticos exerce o ofício de confeccionar bonecas de pano. A sua matéria prima é a embalagem de plástico. Ela se utiliza da sua parte interna, nos tons prata, dourado ou em cores, cuja finalidade consiste nos acabamentos e enfeites das bonecas e/ou quadros de panos com apliques de bonecos, peixes, sereias etc. Iniciou aos 22 anos vendo a sua avó fazer.

Dona Lourdes participa de algumas atividades da ONG Olha o Chico. A partir do projeto “Ação Griô”, a sua participação consiste em repassar sua arte à comunidade, quando afirma: “Eu ensino a fazer as bonecas, inclusive elas estão fazendo melhor do que eu. Antes da Olha o Chico nunca ensinei para ninguém.”

Antes de existir as bonecas de plásticos ou de porcelanas, chamadas de “bonecas cinco estrelas”, já se comercializava, nas feiras livres, as bonecas de pano confeccionadas pelas mãos de artesãos. Para a criança da época, século XIX, ganhar uma boneca de pano era um sonho. Como diz dona Lourdes, o ofício de fazer bonecas de pano era valorizado. Hoje, no século XXI, são poucas pessoas que se interessam por esse ofício. Dona Lourdes considera-se uma profissional em confeccionar bonecas de pano, visto que não só confecciona para comercializar, mas para brincar em seu quarto.

– Rezador (Entrevista C):

 

 

 

 

 

 

Foto 3 - José Gomes dos Santos.

Fonte: Arilene de Castro/Arquivo Fotográfico: Espaço Memória Viva (2011).

José Gomes dos Santos, hoje falecido, (ver foto 3), conhecido como Seu “Zuzinha”, além de pescador e agricultor, desenvolvia atividade de rezador

na cidade. Aprendeu a rezar (curar pela reza) aos 18 anos com sua mãe, como diz: “Com uns 18 anos, aprendi com minha mãe, que era rezadeira.”

Seu Zuzinha participa de algumas atividades da ONG Olha o Chico, dentre elas, o projeto “Ação Griô”, que foi patrocinado pelo extinto Ministério da Cultura (MinC). Esse projeto teve início em 2007 e término em 2010. O senhor Zuzinha diz repassar seu saber para a comunidade, conforme revela: “Ensino as rezas, mas não é todo mundo que aprende, não. ”

 

2.2 A leitura do perfil/função dos agentes culturais e dirigentes da ONG

 

Dos 4 (quatro) sócios agentes culturais/dirigentes[6] da ONG que responderam aos questionários, 3 (três) deles possuem curso superior completo: 2 (dois) na área de Artes Plásticas e 1 (um) na área de Artes Cênicas (teatro). Somente 1 (um) deles possui ensino médio completo.

De acordo com os dados obtidos pela tabulação dos questionários para os sócios agentes culturais/dirigentes da ONG, a diretoria é composta pelas seguintes funções, conforme são exemplificadas no quadro 1 a seguir:

Quadro 1 - Diretoria da ONG Olha o Chico

A sócia dirigente A:

Diretoria de Administração, Planejamento e Projetos - Dalva de Castro.

O sócio dirigente B:

Diretoria Financeira - Gilcimar França.

O sócio dirigente C:

Diretor de Comunicação - Jasiel Martins dos Santos.

A sócia diri -gente D:

Diretora de Arte e Cultura Popular - Linete Matias.

Fonte: Compilação pela autora (2013).

 

Os sócios são mediadores das atividades da ONG, além de contribuírem com o desenvolvimento sociocultural da cidade de Piaçabuçu. Eles realizam atividades direcionadas a jovens, crianças e idosos promovendo neste público a valorização da sua raiz cultural, assim como viabilizando um sujeito capaz de (re)criar a sua história e/ou cultura.

O agente cultural deve ser capaz de administrar, instigar a formação e a garantia de políticas culturais locais, como também desenvolver estratégias voltadas para a dinâmica de projetos culturais na cidade. Neste sentido, os promotores da ação cultural, na medida em que oferecem os meios necessários ao público através das atividades da ONG em Piaçabuçu, podem crescer simbolicamente e interferir na gestão pública da cidade, pois ajudam a promover a democracia cultural e econômica de sua região, contribuindo, assim, para o seu desenvolvimento.

 

2.3 A leitura das ações culturais na ONG Olha o Chico

 

Para Teixeira Coelho (1988) a ação cultural é verificada pela criatividade. Dessa forma, a ação cultural classifica-se pelo poder que rege na mudança cognitiva do sujeito.  Para Milanesi (2002, p. 96) “ação cultural e criatividade são elementos que se integram [...]”, de maneira que, para se criar algo é preciso conhecer o que já foi criado. Há três tipos de atividades culturais: a ação cultural, a fabricação cultural e a animação cultural.  Neste sentido, a ação cultural é “[...] de caráter libertário e questionador, que não se restringe a trabalhar com o já estabelecido, mas, ao contrário, procura incessantemente o vir a ser” (CABRAL 1999, p. 40).

As ações desenvolvidas pela ONG Olha o Chico foram classificadas pela totalidade dos sócios agentes culturais/dirigentes como ação cultural. Assim a dirigente A, explica: “Por objetivar a transformação do pensar e agir dos atendidos e abarcar ações de fabricação/produção de arte e artesanato, e de animação/lazer [...].” Logo, as atividades culturais da ONG relatadas foram: Escola Viva, Sustentabilidade, Espaço Memória Viva, Trilhas do Saber e Sarau Cultural. Dentre elas foi possível concluir que as atividades denominadas “Escola Viva”, “Espaço Memória Viva” e “Trilhas do Saber” têm finalidades de uma ação cultural quantificadas pela maioria das suas atividades e, por sua vez, relacionadas pelos sócios e agentes culturais/dirigentes, objetos do questionário.

 

2.4 Uma leitura do patrimônio cultural na visão da ONG Olha o Chico

 

Para a sócia dirigente A, o patrimônio cultural identificado pela ONG traz a seguinte representação: “o rio, a foz, o mangue, a várzea, a cidade (casas, praças, edificações públicas), as pessoas e seus saberes, o tipo de embarcação e suas velas”. Já para o sócio dirigente B: “as manifestações culturais imateriais”. Enquanto o sócio dirigente C, compreende como: “a arquitetura, musicalidade e instrumentos como o pífano, os barcos, as festas religiosas, a maneira de pescar, a feira, as cantorias de trabalho, a relação com o rio São Francisco”. A sócia dirigente D, diz ser: “o povo, a sua história”.

Examinando as respostas obtidas por intermédio dos 4 (quatro) sócios agentes culturais/dirigentes, pode-se observar que o patrimônio cultural identificado na sua maioria é de cunho imaterial, pois quando se trabalha com os saberes de um povo, assim como a  musicalidade, as formas de religiosidade, os modos de fazer da pesca, comercialização nas feiras livres, todo esse patrimônio identificado e que é valorado ou resgatado pelas atividades socioculturais da ONG são pertencentes ao eixo da cultura imaterial na cidade de Piaçabuçu.

Portanto, um patrimônio imaterial é formado por um conjunto de bens culturais imateriais, na medida em que esse tipo de cultura tem por característica a sua intangibilidade, a qual é conferida pelos modos de ouvir, as formas de saber e de ver, a exemplo das festas religiosas, e das feiras.

 

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O patrimônio cultural imaterial identificado em Piaçabuçu, através das ações desenvolvidas pela ONG Olha o Chico, observou tanto os modos de fazer da bonequeira, dona Lourdes, quanto a forma de se expressar do mestre rezador, seu Zuzinha, no que se refere ao uso de ervas medicinais para a cura, assim como também analisou a mestra de reisado, dona Grinaura, apontando-os como sinalizadores da (re)constituição da memória de gerações passadas deixadas como herança, na medida em que suas memórias coletivas são continuamente reinventadas pelas gerações sucessoras. 

Quanto à informação, pode-se dizer que esta deve ser repassada pela oralidade, pela escrita, e pelas formas visuais e sonoras, podendo ser armazenada, de modo que os grandes detentores, mestres da cultura popular ou aqueles que não tiveram a oportunidade de conter a escrita devam usufruir dela, a qualquer tempo, em suas diferentes formas de expressão e comunicação: escrita, oral, visual e sonora.

Destarte, a ONG tem por finalidade conferir aos mestres da cultura popular a sua relevância como patrimônio imaterial da cidade, assim como procura reter nas formas de trabalho e de memória o saber desses mestres, repassando-o às futuras gerações como testemunhos de um tempo que busca integrar passado, presente e futuro.

 

REFERÊNCIAS

ALAGOAS, Governo do Estado de. Registro do Patrimônio Vivo. Disponível em: http://www.cultura.al.gov.br/politicas-e-acoes/patrimonio-vivo/. Acesso em: 26 set. 2011.

 

BRANDÃO, T. Folguedos Natalinos. 3ª. edição. Maceió: Museu Théo Brandão/UFAL, 2003.

 

CABRAL, A. M. R. Ação cultural: possibilidades de atuação do bibliotecário. In: VIANNA, M. M.; CAMPELLO, B.; MOURA, V. H. V. Biblioteca escolar: espaço de ação pedagógica. Belo Horizonte: EB/UFMG, 1999, p. 39-45.

 

CHARTIER, R. Prefácio. In: CHARTIER, R. Práticas da leitura. São Paulo: 5. ed. Estação da Liberdade, 2011.

 

COELHO NETO, J. T. O que é ação cultural. São Paulo: Brasiliense, 1988.

 

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

 

MILANESI, L. Biblioteca. São Paulo: Ateliê, 2002.

 

POLINARI, M. Patrimônio Cultural Imaterial. In: ENCONTRO REGIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE HISTÓRIA, 11., 2008, Curitiba. Anais[...] Curitiba: ANPUH, 2008.

 

VIANA, L. C. R.; TEXEIRA, G. L. C. Patrimônio imaterial, performance e identidade. Cincinnitas, ano 9, v. 1, n. 12, jul. 2008.

 



[1] A Associação Amigos de Piaçabuçu, um nome fantasia, Olha o Chico foi reconhecida, na época, pelo então Ministério da Cultura como Ponto de Cultura. O Ponto de Cultura Olha o Chico está localizado à Avenida Ulisses Guedes, 242 – A, na cidade de Piaçabuçu, Alagoas.

[2] Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), intitulado “O patrimônio imaterial: uma leitura das ações culturais da ONG Olha o Chico – Piaçabuçu/AL”, cujos resultados das análises foram apresentadas ao Curso de Biblioteconomia da Universidade Federal de Alagoas em 2014.  Esse TCC foi defendido em 2014 e, ainda neste mesmo ano, recebeu o prêmio de melhor TCC da região Nordeste no Concurso de TCC realizado pela Associação Brasileira de Educação em Ciência da Informação (ABECIN). O TCC, de autoria de Almiraci Dantas dos Santos, foi desenvolvido sob a orientação da professora doutora Maria de Lourdes Lima. Disponível em: https://abecin.org.br/concursos/

 

[3] Conhecida na cidade como Mestra de Coco (coco enquanto ritmo, dança e estilo de música).

[4]Mangam” segundo o dicionário online de português diz: vem do verbo mangar. O mesmo que: escarnecem, mamparreiam, troçam, zombam, debocham.

[5] Reconhecida como patrimônio vivo do Estado de Alagoas pelo RPV – Registro do Patrimônio Vivo, através da Secretaria de Cultura do Estado de Alagoas em 2011. Disponível em: http://www.cultura.al.gov.br/politicas-e-acoes/patrimonio-vivo

[6] Sócios responsáveis pelo gerenciamento da ONG Olha o Chico.