Documentos fotográficos: elementos para representação
Photographics documents:
elements for representation
Documentos fotográficos: elementos de
representación
Leila Fidelis Macedo
Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
Brasil
Naira Silveira
Universidade Federal do Estado do Rio
de Janeiro (UNIRIO)
Brasil
Submetido em: 21/04/2021
Aceito em: 14/06/2021
Publicado em: 28/10/2021
Licença:
Autor para correspondência: Leila
Fidelis Macedo
Email: leilafidelismacedo@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4943-8233
Como citar
este artigo:
MACEDO,
Leila Fidelis; SILVEIRA, Naira. Documentos
fotográficos: elementos para representação. REBECIN, São Paulo, v. 8, edição especial, p. 1-11, 2021. DOI: DOI
10.24208/rebecin.v8i.250
RESUMO
Discorre acerca da análise documental de fotografias e
do uso dos códigos de catalogação na elaboração do registro bibliográfico desse
tipo de documento. Adota como metodologia a pesquisa documental e tem por
objetivo analisar a representação documental de fotografias, com base no Código
de Catalogação Anglo-Americano (AACR) e na norma Recursos: Descrição e Acesso
(RDA). Para isso, foram elencadas as regras presentes nesses códigos e suas
diferenças foram apontadas, além de destacar as características das imagens
fotográficas. Conclui-se que o registro bibliográfico sofreu mudanças com o
surgimento da norma RDA, porém essas mudanças não incluem as dimensões
expressivas das fotografias, isto é, as técnicas utilizadas na captura da
imagem como lentes, posição da câmera, luminosidade entre outras variáveis. Por
possuir características peculiares, esse tipo de documento necessita ser melhor estudado para sua representação ser adequada ao
usuário e tipo de biblioteca.
Palavras-Chave: Análise documental; Códigos de catalogação;
Documentos fotográficos.
ABSTRACT
Expose the
documentary analysis of photographs and the use of cataloging codes in the
elaboration of the bibliographic record of this type of document. It adopts
documental research as a methodology and aims to analyze the documentary
representation of photographs, based on the Anglo-American Cataloging Rules and
the Resource Description and Access standard. Therefore
the rules present in these codes were listed and their differences were pointed
out, in addition to highlighting the characteristics of the photographic
images. It is concluded that the bibliographic record underwent changes with
the appearance of the RDA standard, however these changes do not include the
expressive dimensions of the photographs, that is, the techniques used in
capturing the image such as lenses, camera position, brightness, among other
variables. Because it has peculiar characteristics, this type of document needs
to be better studied for its representation to be suitable for the user and
type of library.
Keywords: Document analysis; Cataloging codes;
Photographic documents.
RESUMEN
Este artículo trata del análisis documental de las fotografías
y del uso de los códigos de
catalogación en la elaboración del registro bibliográfico de este tipo de documentos. Adopta como metodología
la investigación documental y pretende
analizar la representación
documental de las fotografías, basándose
en el Código de Catalogación
Angloamericano (AACR) y en
la norma Recursos: Descripción y Acceso (RDA). Para ello, se enumeraron las normas presentes en estos códigos
y se señalaron sus diferencias,
además de destacar las características de las imágenes fotográficas. La conclusión es
que el registro bibliográfico
ha sufrido cambios con la aparición de la norma RDA, pero estos cambios
no incluyen las dimensiones
expresivas de las fotografías,
es decir, las técnicas utilizadas en la captación de la imagen como los objetivos, la posición de la cámara, la luminosidad entre otras variables. Por tener características peculiares, este tipo de documento
necesita ser mejor estudiado para que su representación sea adecuada al usuario y al tipo de biblioteca.
Palabras clave: Análisis de documentos; Códigos de catalogación; Documentos fotográficos.
Ao observar o contexto atual da
sociedade percebe-se que auantidade de informação
produzida cresce diariamente e tende a aumentar com o surgimento de novas
tecnologias de informação e comunicação.
Essa mudança de cenário
traz um impacto na Biblioteconomia, especialmente em relação à organização e
representação do documento. É através desses novos recursos que surge a
necessidade de adequação e atualização de sistemas e documentos normativos que
auxiliem no acesso do usuário à informação.
A normativa mais
recentemente publicada para a elaboração de registros bibliográficos é
Recursos: Descrição e Acesso (RDA). Nesse contexto de renovação de normativas,
temos as seguintes questões de pesquisa: A maneira que o registro de um
documento fotográfico se apresenta com essa nova norma trouxe mudança? A RDA
supre as necessidades da representação documental de fotografias? Quais
elementos devem estar presentes na elaboração do registro bibliográfico de
documentos fotográficos?
Sendo assim, este
trabalho tem por objetivo analisar a representação documental de fotografias,
com base na segunda edição revista do Código de Catalogação Anglo-Americano
(Anglo-American Cataloguing Rules - AACR2r) e na norma Recursos: Descrição e
Acesso (Resource Description and Access - RDA).
Adota como metodologia a
pesquisa documental nos códigos e normativas adotadas para a catalogação,
elencando as regras presentes nesses códigos e evidenciando suas diferenças.
A estrutura deste texto,
além da introdução com a apresentação do tema, objetivos e metodologia, contém
uma parte com o desenvolvimento do referencial teórico destinado à
representação documentária de fotografias e outra parte com a análise das
normativas para a representação de fotografias. Por fim, as considerações
finais e referências.
2 A REPRESENTAÇÃO DE FOTOGRAFIAS
Os documentos
fotográficos também passam pelo processo de análise documental, pois apresentam
elementos intrínsecos e extrínsecos que devem ser representados. Pensando
nisso, surgem os principais problemas: como escolher os elementos de
representação e como definir os parâmetros que relacionam esses elementos de
forma que garanta a transposição do imagético para o escrito (MANINI, 2004).
Outro problema que Smit (1987) destaca é a separação entre denotação - o que a
imagem mostra - e conotação - o que a sociedade interpreta. Uma imagem,
dependendo de seu contexto e da legenda que possua, pode representar diversos
tipos de significados e interpretações. A mensagem que as imagens informam é
constituída por três dimensões: o conteúdo, a expressão (técnica empregada) e a
forma (ou suporte) (LACERDA, 1993; SMIT, 1996).
Na tentativa de criar um
meio de análise e representação de imagens, Manini (2002) elencou um conjunto
de elementos, presente no quadro 4. Para ela, ao responder as categorias quem,
o que, quando, onde e como em relação ao DE Genérico realiza-se a descrição da
imagem, ao DE Específico faz-se a análise de seu significado e para responder o
SOBRE se expressa a forma técnica de produção da imagem.
O Quadro 1 – Grade de
análise documentária de imagens fotográficas, antes de chegar a essa versão,
teve contribuições vindas de Shatford, com DE Genérico, DE Específico e SOBRE,
e de Smit com a concepção de Dimensão Expressiva. Dimensão expressiva está
relacionada à técnica aplicada pelo fotógrafo para capturar a imagem (MANINI,
2002, p. 20).
Quadro 1 –
Grade de análise documentária de imagens fotográficas
|
CONTEÚDO
INFORMACIONAL |
DIMENSÃO EXPRESSIVA |
||
|
DE |
SOBRE |
||
CATEGORIA |
GENÉRICO |
ESPECÍFICO |
|
|
Quem/O que |
|
|
||
Onde |
|
|
||
Quando |
|
|
||
Como |
|
|
Fonte: Manini
(2004, p. 94)
O preenchimento da coluna
dimensão expressiva depende do Quadro 2 – Recursos técnicos e variáveis
elaborada por Manini (2004) com as categorias e suas variáveis para a análise.
Conforme alerta a autora, não são tabelas exaustivas e está aberta a inclusões
de variáveis e categorias de acordo que novas tecnologias surgirem.
Quadro 2 –
Recursos técnicos e variáveis
RECURSOS TÉCNICOS |
VARIÁVEIS |
Efeitos
especiais |
Fotomontagem; Estroboscópio; Alto-contraste;
Trucagens; Esfumação. |
Ótica |
Utilização de objetos (fish-eye, lente normal,
grande-angular, teleobjetiva etc.); Utilização de filtros (infravermelho,
ultravioleta etc.). |
Tempo
de exposição |
Instantâneo;
Pose; Longa exposição. |
Luminosidade |
Luz diurna; Luz noturna; Contraluz; Luz artificial. |
Enquadramento |
Enquadramento do objeto fotografado (vista parcial,
vista geral etc.); Enquadramento de seres vivos (plano geral, médio,
americano, close, detalhe). |
Posição
de câmera |
Câmera alta; Câmera baixa; Vista aérea; Vista submarina;
Vista subterrânea; Microfotografia eletrônica; Distância focal
(fotógrafo/objeto). |
Composição |
Retrato; Paisagem; Natureza morta. |
Profundidade
de campo |
Com profundidade: todos os campos fotográficos
nítidos (diafragma mais fechado); Sem profundidade: o campo de fundo sem
nitidez (diafragma mais aberto). |
Fonte:
Manini (2004, p. 21)
A utilidade dessa tabela
é servir de guia ao profissional da informação no momento da análise. Quando
estiver com a fotografia em mãos fazer uma associação com os elementos
descritos acima com a técnica utilizada e conseguir representar (MANINI, 2004,
p. 21).
3 ANÁLISE DA REPRESENTAÇÃO DE FOTOGRAFIAS E AS MUDANÇAS
As mudanças entre o Código de Catalogação
Anglo-Americano (2. ed., rev.) e a norma Recursos Descrição e Acesso são
apresentadas de modo sucinto no Quadro 3 – Comparação entre os códigos.
Quadro 3 –
Comparação entre os códigos
ELEMENTOS |
AACR2r |
RDA |
|
Capítulos relacionados às fotografias |
Descrição
bibliográfica 1. Regras gerais de descrição 8. Materiais gráficos Pontos de
acesso 21. Escolha dos pontos de acesso 21.16 Obras de arte 22. Cabeçalhos para pessoas 24. Cabeçalhos para entidades + Designações de função (21.0D) |
Registro
dos atributos Seção 1 –
Registro de atributos para manifestação e item 1. Diretrizes gerais para registro de atributos de
manifestações e itens 2. Identificação de manifestações e itens 3. Descrição de suportes 4. Provimento de informações sobre aquisição e
acesso Seção 2 –
Registro de atributos para obra e expressão 5. Diretrizes gerais para registro de atributos de
obra e expressão 6. Identificação de obras e expressões 7. Descrição de conteúdo Registro
dos pontos de acesso Compreendem as seções 5 a 10 Apêndice I – designador de relacionamento
(fotógrafo) |
|
Terminologia |
Cabeçalho Cabeçalho autorizado Entrada principal Entrada secundária Controle de autoridade Título uniforme Remissivas |
Ponto de acesso Ponto de acesso preferido Ponto de acesso primário Ponto de acesso secundário Ponto de acesso controlado Título preferido Ponto de acesso variável |
|
Níveis de descrição |
Três níveis. (1.0D) |
Elementos centrais e elementos adicionais. |
|
Abreviaturas |
Permite. (1.1F7, 1.2B1, 1.4B4 e 1.4C3) |
Não permite, exceto se estiver no recurso. (1.7.8)
Meses, nomes de Estados e de Cidades, edições, palavras como ilustração,
mapas, páginas, volumes etc. devem ser escritos por extenso. |
|
Uso do latim |
Permite, usa-se sine
loco [S.l], sine nomine [s.n.] (1.4C6 e 1.4.D6). |
Não permite,
usa-se [Place of publication not
identified], [publisher not identified] e [date of publication not identified] (2.8.2.6,
2.8.4.7 e 2.8.6.6). |
|
Incorreções |
Usa-se [sic] ou [i.e.]. (1.0F1) Ex.: The wolrd [sic]
of television |
Não permite, faz-se nota ou título variante. (1.7.9) Ex.: The wolrd of
television |
|
Mais de três responsáveis |
Usa-se [et al.]. (1.1F5) |
Não permite, faz-se registro de todos os autores e a
omissão torna-se opcional (2.4.1.5). |
|
Pontuação – ISBD |
Dispersa a cada início de área. |
Concentrada no apêndice D. |
|
Copyright |
Usa-se quando as datas de produção, publicação e
distribuição forem desconhecidas. |
||
(1.4F6) |
(1.3) |
||
Lista de termos |
Possui. |
Possui. + atualizado |
|
Exemplos |
8.5 ÁREA
DA DESCRIÇÃO FÍSICA 8.5B
Extensão do item (incluindo designação específica do material) 8.5B1
Registre o número de unidades físicas de um item gráfico dando o número de
partes em algarismos arábicos e um dos termos seguintes, conforme o caso: (...) Fotografia (...) 1 quadro didático 3 quadros didáticos 2 diapositivos 12 transparências |
3 DESCRIBING CARRIERS 3.4 Extent 3.4.4 Extent of Still Image 3.4.4.2 Recording Extent of Still Images Record the extent
of a resource consisting of one or more still images by giving the number of
units and an appropriate term from the following list. Record the term in the
singular or plural, as applicable. (...) Photograph (...) If the resource
consists of more than one type of unit, record the number of each applicable
type. EXAMPLE 1 drawing 3 wall charts |
|
Designadores de função |
Elemento opcional. (21.0D) |
Elemento obrigatório. Apêndice I |
|
Designação
Geral do Material |
Elemento opcional. (1.1C) |
Mudança de nome, subdividido em três: Tipo de mídia
(3.2), Tipo de suporte (3.3) e Tipo de conteúdo (6.9). Elemento obrigatório. |
|
Fonte: Elaboração própria.
O Quadro 4, Definições
dos elementos, apresenta as definições dos três termos vistos no quadro
anterior relacionados ao tipo de conteúdo, tipo de mídia e tipo de suporte.
Quadro 4 –
Definições dos elementos
|
ESCOPO |
EXEMPLO |
Tipo de conteúdo |
Como o conteúdo é expresso (atributo no nível de expressão). |
Imagens, sons, texto etc. |
Tipo de mídia |
Dispositivo necessário para intermediação para ver,
tocar, exibir etc. (atributo no nível de manifestação). |
Microforma, áudio, vídeo, computador etc. |
Tipo de suporte |
Formato do meio de armazenamento e invólucro
(atributo no nível de manifestação). Está relacionado ao tipo de mídia. |
Carretel de filme, audiocassete, microficha etc. |
Fonte:
Oliver (2011, p. 61)
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observamos que a RDA
apresenta mudanças, pois, apesar da maioria das regras da AACR2r encontrarem-se
na RDA, a nova norma abriu espaço para que os elementos da designação geral do
material (DGM) ganhassem nova nomenclatura e novo espaço. Anteriormente, na
AACR2r, a DGM estava contida na área de título e responsabilidade e era
elemento opcional, com a RDA ganha um espaço próprio e é dividida em tipo de
conteúdo, tipo de suporte e tipo de mídia, tornando-se elementos essenciais. A
RDA possibilita melhor descrição do suporte, pois elenca vários termos que
podem ser utilizados na descrição. Este se encontra mais extenso, o que permite
melhor representação.
Ao longo da pesquisa
percebemos que a RDA, assim como a AACR2r, não supre as características
técnicas das fotografias vistas na seção 2.2, como efeitos especiais, ótica,
tempo de exposição, luminosidade etc., deixando para a agência bibliográfica a
decisão de transcrever essas informações na área de notas ou não. De acordo com
os recursos técnicos expostos nos quadros 5 e 8 dessa seção, destaca-se as
variáveis que acredita-se que poderiam ser
contempladas pelos códigos de catalogação.
ü Composição:
Retrato; Paisagem; Natureza morta;
ü Enquadramento:
Enquadramento do objeto fotografado (vista parcial, vista geral etc.);
Enquadramento de seres vivos (plano geral, médio, americano, close, detalhe);
ü Condição da imagem: Abertura da lente; Coloração; Compensação de exposição; Contraste;
Distância focal; Flash; ISO; Nitidez; Saturação.
Tais informações deveriam
ser contempladas nos códigos por possuírem relação com as informações técnicas,
em especial as que estão ligadas diretamente com os aparelhos utilizados
(câmeras, lentes etc.). É importante ter uma padronização destes elementos e
que haja um espaço próprio para eles dentro dos códigos de catalogação para
integrar a representação descritiva e temática em um mesmo instrumento de
trabalho.
REFERÊNCIAS
LACERDA,
Aline Lopes de. Os sentidos da imagem: fotografias em arquivos pessoais. Acervo: Revista do Arquivo Nacional,
Rio de Janeiro, v. 6, n. 1-2, p. 41-54, jan./dez. 1993. Disponível em:
http://bit.ly/30yHEvU. Acesso em: 20 set. 2013.
MANINI,
Miriam Paula. Análise documentária de fotografias: leitura de imagens incluindo
sua dimensão expressiva. Cenário
Arquivístico, Brasília/DF, v. 3, n.1, p. 16-28, 2004. Disponível em:
http://bit.ly/3vnJePo. Acesso em: 04 mar. 2021.
MANINI,
Miriam Paula. Análise documentária de fotografias: um referencial de leitura de
imagens fotográficas para fins documentários. Tese (doutorado em Ciências da
Comunicação) – Departamento de Biblioteconomia e Documentação e
Artes–Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. Disponível em: http://bit.ly/17d3L6E.
Acesso em: 15 set. 2013.
OLIVER,
Chris. Introdução à RDA: um guia
básico. Brasília, DF: Briquet de Lemos/Livros, 2011.
SMIT,
Johanna Wilhelmina. A
representação da imagem. Informare: Cadernos
do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Rio de Janeiro, v.
2, n. 2, p. 28-36, jul./dez. 1996. Disponível em: https://bit.ly/30yEo3E.
Acesso em: 04 mar. 2021.
SMIT,
Johanna Wilhelmina. Análise
da imagem: um primeiro plano. In: SMIT, Johanna
Wilhelmina (coord.). Análise documentária: análise da síntese. Brasília: IBICT, 1987. p. 99.
Disponível em: http://bit.ly/3l3ywZv. Acesso em: 04 mar. 2021.